domingo, 12 de dezembro de 2010

Casarão da resistência acreana


Coluna publicada no Jornal Página 20 | 12dez2010
Este é o novo Casarão inaugurado sexta-feira:
ponto histórico da resistência acreana

O governo revitalizou o prédio e vai entregá-lo a um grupo de “amigos do Casarão” que possa cuidar dele como centro de cultura, em convênio com o departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Elias Mansour. Claro, com um boteco funcionando lá dentro. A inauguração aconteceu sexta-feira, com a presença do governador Binho Marques, do senador eleito Jorge Viana e muitos dos antigos freqüentadores. Teve show, cerveja de graça e muita saudade. É um resgate, em termos, do bar que fez história a partir de 1980, como espaço de conspiração e lazer de ativistas políticos, artistas e intelectuais de Rio Branco. E que só pode reviver, com o charme e a inquietude do passado, na memória dos que o tinham como reduto. Entretanto, temos agora um símbolo da acreanidade valorizando o centro (av. Brasil entre Getúlio Vargas e Marechal Deodoro) com sua memória de resistência cultural, social e política.

A história do Casarão começa com a Anistia aos presos e perseguidos políticos no ano de 1979, como relata um de seus fundadores, o sociólogo, escritor e professor universitário Pedro Vicente da Costa Sobrinho: “Naquele ano, retornaram ao país muitos brasileiros que se encontravam no exílio e os que estavam presos nos cárceres da ditadura ou na clandestinidade. Eles foram soltos ou voltaram a circular, e puderam assim tentar reconstruir suas vidas. Nelson Rodrigues Filho, o Nelsinho, filho do dramaturgo Nelson Rodrigues, saiu da prisão onde cumpria uma longa pena sob a acusação de terrorismo, juntou alguns trocados e associou-se com mais dois amigos para abrir um Bar no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Por sua cultivada barba na prisão, os amigos e sócios nomearam o bar de ‘O Barbas’. O Barbas passou a ser o espaço alternativo por excelência, para onde uma intelectualidade de esquerda se dirigia e batia o ponto varando a noite em conversas e reuniões, regadas a cerveja e caipirinhas. O Barbas mantinha jornal mural, disponibilizava livros, jornais e revistas; música ao vivo ou mecânica com repertório de boa qualidade; e promovia palestras, conferências etc. sobre literatura e artes, e também política.

Numa viagem que fez ao Rio, Pedro Vicente, que dirigia o SESC como ponto de efervescência cultural em Rio Branco, foi visitar “O Barbas” e conversou com Nelsinho, seu proprietário e gerente. Ele lhe passou quase tudo que fizera no espaço: programação cultural, perfil da clientela, controle e administração. O sociólogo ficou entusiasmado com o projeto e, ao voltar a Rio Branco, mais que depressa procurou contatar os possíveis parceiros para juntos tentar viabilizar um projeto semelhante ou parecido com “O Barbas”.

“A velha casa residencial da família Fontenelle- narra Pedro Vicente- logo me pareceu o local ideal para instalação da iniciativa, só com um impedimento: lá já funcionava um barzinho decadente e de escassa freqüência. Conversei inicialmente com meus amigos Elson Martins e Miguel Ortiz, e eles de rápido se convenceram da idéia. Todos se convenceram que o espaço ideal seria a velha casa residencial dos Fontenelle, pela sua beleza e funcionalidade. Em outras conversas nós envolvemos o indigenista José Carlos Meireles, que tinha sido demitido da Funai. Meireles sugeriu que o nome de fantasia do bar fosse “O Casarão”, e a coisa pegou. Pouco tempo depois, o barzinho que lá funcionava faliu, e Elson Martins assumiu a tarefa de falar com Darci, o herdeiro que ocupava e administrava a velha casa. Resolvido a questão da locação, tomamos a iniciativa de por em prática o projeto”.

Não foi difícil convencer Darci Fontenele sobre o nosso projeto. Eu o conhecia desde os anos 50, no Colégio Acreano, até freqüentei sua casa construída nos anos 30, toda em madeira de lei, e tomei banho na piscina, a primeira da capital e talvez do Acre. Ele até se mostrou feliz com a idéia.

Era o ano de 1980. Iniciamos pequena reforma da velha casa mantendo a mesma estrutura. Se o projeto era novo, não poderíamos mobiliar o espaço com mesas e cadeiras de plástico como era costume em Rio Branco. Assumimos o trabalho de confeccionar as cadeiras e mesas com madeira. Meireles e Miguel, com o auxílio de um marceneiro, fizeram todo o trabalho. Do projeto constou: jornal mural; espaço para se deixar recados; um local para que as pessoas que freqüentavam o espaço pusessem assinaturas; decoração com gravuras de artistas; equipamento de som com repertório musical variado e rigorosamente selecionado; além de programa de música ao vivo, uma vez por semana. Constava também a realização de debates, palestras etc. No projeto agregamos uma Livraria e pequena galeria de arte para exposições de artistas locais, nas duas salas situadas no piso inferior. No segundo piso, as salas foram cedidas para a Comissão Pró-Índio e movimentos sociais. A livraria foi instalada e no espaço da galeria, apenas Hélio Melo expôs seus quadros.

Durante um pouco mais de dois anos (1980/82), na sua primeira fase de existência, o Casarão funcionou regularmente, atraindo intelectuais, estudantes, sobretudo de esquerda, e mais um eclético público de freqüentadores. Pedro Vicente teve acesso a um dossiê da Polícia Federal e dos órgãos de informação relacionado às suas atividades políticas e diz: “ O Casarão é mencionado como local freqüentado principalmente por homossexuais, prostitutas, drogados e pessoal de esquerda. Para os órgãos de segurança era um lugar maldito”.

Em 1982, o Casarão foi assumido pelo casal Walter e Graça. Eles deram uma nova vida ao projeto, ampliando o bar e o transformando em restaurante. Um público muito maior foi incorporado como freqüentadores; a esquerda e uma juventude rebelde às convenções tradicionais da época tornou-se cliente do bar por excelência. Graça e Walter lhes deram aproximadamente, mais vinte anos de sobrevida.

Sócio ou cliente? - Quando Pedro Vicente me convidou para sócio do Casarão, eu comandava com o Silvio Martinelo o diário ”A Gazeta do Acre” que funcionava no bairro da Cerâmica. O jornal pertencera a um grupo de Porto Velho que, não conseguindo sobreviver por aqui, abandonou o maquinário num prédio na rua Benjamim Constant, em frente a Rádio Difusora Acreana. De Porto Velho, o editor João Teixeira me mandou um telex oferecendo-me a condução do jornal por conta e risco. Eu, Sílvio, Arquilau (hoje desembargador), Suede Chaves e mais alguns, estávamos encerrando a experiência com o jornal Varadouro e topamos a parada. Entretanto, numa certa manhã fui surpreendido com o advogado dos fazendeiros, João Branco, sentado à minha mesa. Ele fora anunciar, com seu jeito arrogante, que o empresário Wilson Barbosa tinha comprado o jornal e este teria nova linha editorial, com aproveitamento de nossa equipe.

Prometemos voltar à tarde com uma resposta, mas não voltamos. O jornal circulou uns dois dias e parou. Então, o Wilson nos chamou para conversar. Disse que gostava do nosso trabalho e que tinha comprado o jornal contando com a gente. João Branco, segundo explicou, era apenas o advogado contratado para cuidar da transação. Aceitamos voltar, mas com uma condição: o advogado representante da UDR ficaria proibido de aparecer na redação. Com este acerto, nos mudamos para um prédio de Wilson Barbosa no bairro Cerâmica e vivemos uma fase de bom jornalismo, com razoável independência editorial. Não recebíamos verba do governo, e o dono do jornal, embora pagasse parte das despesas, não interferia na redação. Esse namoro durou até as eleições de 1982, quando as divergências políticas afloraram.

Bom, vibrei com a proposta do Pedro Vicente e me tornei sócio do bar, mas não tinha tempo a não ser depois que fechava a edição do jornal. Era melhor ser apenas freqüentador. Lembro que escolhia uma mesa dos fundos, próxima da administração do bar, mas sentava de costas para a Ana, esposa do Pedro Vicente,evitando um possível olhar de reprovação dela que ficava no Caixa e podia solicitar ajuda. Pelo menos, eu fazia questão de pagar minhas despesas, geralmente umas caipirinhas e caldo de feijão como tira-gosto. Saía do jornal direto pro Casarão sabendo que encontraria por lá as figuras mais interessantes de Rio Branco. Ouvia música popular de qualidade, participava de conchavos ideológicos e criticava os maus políticos. Tarde da noite, gostava de ver os grupos de teatro que chegavam caracterizados transformando o Casarão num palco.

Por uma questão de justiça, passei minhas quotas para o Pedro e o Miguel assumindo melhor a condição de cliente. E como tal testemunhei a ampliação e diversificação da freqüência, vendo que o Casarão, aos poucos, passou a ser preferência também de fazendeiros, políticos conservadores e até agentes da Polícia Federal. Estes, certamente, interessados em ouvir conversas estimuladas pelo ambiente que os ajudassem identificar inimigos do regime militar.

Nos jornais, as referências ao Casarão eram sempre favoráveis, mas o melhor marketing, forte e precioso, partia voluntariamente do Toinho Alves com suas crônicas sobre Jack Fontenelle, pesonagem que ele encontrou no quintal do coronel governador. Jack era um jacaré: apareceu na velha piscina desativada e ficou por lá, pegando sol durante o dia, urbano e sereno, aguardando as sobras de comida da noite. Toinho filosofava com o bicho, de tal forma, que era possível imaginá-lo, a exemplo dos botos, subindo ao bar, altas horas, para namorar, beber, escrever poesia, deixar recados... Ou seja, ampliando a resistência naqueles tempos amargos e perigosos, mas tão necessários e tão apaixonantes!

Aqui se discutia tudo, da feijoada
à criação de um partido politico


O Casarão virava Teatro na madrugada

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Varadouro 22: tempo de mudança


Na seção “Neste Número” que abre a página 2, Varadouro sempre aproveitava para fazer um pequeno editorial. Nesta edição (n.22), que circulou em junho/julho de 1981, o jornal anuncia que muitas pessoas procuram sua redação “em busca de um espaço para discutir e expressar suas dúvidas, perspectivas e anseios”. E professa que “Varadouro pretende ser uma escola. Não uma escola onde os doutores sabidos estão de um lado, e os ignorantes de outro. Mas uma escola onde todos ensinam e aprendem, onde se possa trocar as experiências, enriquecer individualmente e desta forma possibilitar o fortalecimento das nossas lutas. Se ainda estamos longe de chegar lá, grande é a vontade para reunir, de fato, o maior número possível de pessoas que questionem a si e ao mundo em sua volta, bem como para incorporar todas as causas justas”
“Neste número – prossegue o texto – mais uma vez trazemos os temas aos quais nossos leitores já se habituaram. Ou seja, é o mesmo Varadouro de sempre, combativo, não estático, evoluindo junto com as lutas de várias parcelas da população”.
O que o pequeno editorial não diz é que o jornal se aproximava do fim. Com mais duas edições (23 e 24) fecharia as portas encerrando uma vida curta, mas corajosa e muito útil à sociedade acreana, sobretudo como instrumento de defesa dos valores históricos, ambientais, culturais, sociais, econômicos e políticos da região.
Na edição anterior o jornal já sinalizava com dificuldades intransponíveis para se manter. A ajuda em dinheiro da Prelazia do Acre e Purus, prevista para garantir apenas seis edições, esgotara nos dois primeiros anos, e já haviam se passado quatro com a idéia bíblica de multiplicar o pão. O expediente da edição 22 transparecia o esforço supremo: tinha gente nova arregaçando as mangas, a começar pela editoria. Na verdade, uma discussão interna e democrática havia determinado mudança: Elson Martins e Silvio Martinello se afastariam da editoria (ficariam na reportagem) dando lugar a Romerito Valle de Aquino, Marco Antônio Mendes e Antônio Alves Neto.
Os dois nomes continuavam aparecendo na editoria, mas era só pra constar. A nova ordem era dada pelo pessoal mais jovem relacionado na Redação: Antônio Alves, Antônio Manoel, Armando Soares, Fátima Almeida, Fernando La Roque, Francis Mary, Saulo Petean, Roberto Medeiros (Branco), etc.
O pequeno editorial esclarece: “Procuramos nos transformar para acompanhar a transformação da sociedade. Por essa razão é que não estamos apenas denunciando, mas apresentando também algumas reportagens estreitamente ligadas às lutas de diversos movimentos. É o caso dos estudantes, dos filiados aos sindicatos rurais do Acre, dos artistas, dos que procuram outras formas para sobreviver”.
Por fim, mais explicação e justificativas: “Talvez ainda nos falte o humor. Há quem diga que devemos ser sérios, mas não pesados. Enquanto não suprimos esta falha, procuramos compensar mexendo no visual e transmitindo um pouco de emoção: como a do fotógrafo da última página, revelando de forma poética uma realidade terrivelmente cruel”.
A edição que a partir de hoje estará disponível em PDF a todos os internautas mantém a qualidade que fez a fama do Varadouro, em matérias como: “A grande festa do PT no Acre”, “A Constituinte pede passagem”, “Acre: paraíso dos enlatados”, “Estão envenenando o Acre,”, “Akiri: tempo de mudança”, “Seringueiros apontam rumo para o sindicato”, “O exemplo da Colônia Cinco Mil”, entre outras.
Link para download do site da Biblioteca da Floresta: Varadouro, número 22 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caminhão da Segunda Guerra será museu volante

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 5dez2010
Este possante caminhão era utilizado para transpportar judeus
para os campos de extermínio de Adolf Hitler

As escolas estaduais e municipais de Rio Branco poderão, em 2011, contar com um museu volante, histórico e original, O projeto está sendo montado com incrível esforço e persistência individual pelo ex-repórter do jornal Varadouro, ex-advogado de Chico Mendes e das famílias de seringueiros expulsas (pelos fazendeiros) dos seringais nos anos 1970, o atual desembargador Arquilau de Castro Melo, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre.
Nas duas últimas décadas, o desembargador que nasceu em Cruzeiro, no Vale do Juruá, tem se dedicado a juntar peças históricas que encontra em mãos de famílias tradicionais, ou que recebe como doação diversas localidades do interior do Estado. Na sua residência na Chácara do Ipê, na capital, um belo “chapéu de palha” que construiu como área de lazer vai sendo tomado por essas peças.
Lá, já podem ser encontrados: o primeiro projetor de cinema que funcionou em Cruzeiro do Sul,aparentemente em perfeito estado; máquinas de costura Singer, ferros elétricos de passar aquecidos a carvão e bules coloridos diversos; faróis Aladim, fôrmas para confecção de sapatos de seringa, baldes, facas e porongas de seringueiro utilizadas na fabricação de borracha, entre uma centena de outros objetos.
Pendurada no teto do “chapéu de palha” tem uma réplica do avião DC-3 que, no ano de 1973, caiu em Sena Madureira matando várias pessoas, entre elas o saudoso bispo Dom Giocondo, criador das comunidades eclesiais de base e incentivador do Clube Juventus. O desembargador descobriu um artesão que trabalha com essas réplicas em outro estado, pagou uma grana pesada e conseguiu o avião que tem mais de metro de comprimento, com as cores e até prefixo da aeronave sinistrada.
Mas nada se compara a mais nova aquisição do desembargador. Trata-se de um caminhão do tempo da Segunda Guerra Mundial, fabricado em 1935, que nos anos cinqüenta foi levado para Cruzeiro do Sul pelos padres alemães que dirigem a Prelazia do Juruá. O veículo foi fabricado pela indústria Berna, alemã, adquirida no pós-guerra pela Mercedes Benz, e se encontra inteiro: diariamente, o desembargador entra em sua cabine e aciona o motor original que faz quase tanto barulho quanto uma usina de luz de médio tamanho.
Os jovens, certamente, vão chamar de “massa” esse caminhão troncudo que tem a direção no lado direito e, na cabine, atrás do motorista, oferece lugar para pendurar e guardar pelo menos três rifles possantes. Tudo é ancho e descomunal no caminhão, sobretudo a carroceria, com laterais com mais de metro de altura e uma cobertura também bastante alta, com grossas hastes de ferro como sustentação. Tanto dentro como na parte externa da carroceria, e no teto, dá para pendurar e abrigar um museu completo.
Durante a guerra, o caminhão foi usado para transportar judeus para os campos de extermínio para os fornos crematórios. Por isso, o modelo é comumente utilizado em filmes sobre o nazismo. O desembargador navega pelos canais da Sky (tv paga) procurando nos filmes clássicos mais informações e detalhes sobre a máquina poderosa que quer transformar em museu. Como tudo nela foi projetado há 75 anos, sua circulação está condicionada a pequenas distâncias, como escolas rurais e alguns municípios próximos.
Desta vez, Arquilau não precisou comprar nem ganhar o caminhão para seu acervo. Ele contou com interesse dos atuais donos – a família Parente, de Cruzeiro do Sul - para montar o projeto. A idéia será apresentada ao Governo do Estado, à Prefeitura e, quem sabe, a instituições que entendam a originalidade e importância do museu volante para levar às novas gerações de acreanos, a memória da Revolução que bisavós empreenderam no início do século 20. Se possível, com acompanhamento de historiadores e universidades.
Enquanto isso, o desembargador vai entupindo, cada vez mais, seu depósito de quinquilharias históricas, até mesmo o banheiro social da área de lazer.





Correio


A embaixatriz


A elegante e simpática senhora que aparece na foto entre lideranças indígenas do Acre é a embaixatriz da Palestina no Brasil, Nahida Tamimi Alzeben. Ela acabara de chegar de Brasília, domingo passado (26), e foi levada ao sítio da família Farhat, na BR-364, onde a aguardavam, além dos indígenas, duas dezenas de outros convidados a quem foi servida uma farta mesa de comidas árabes e acreanas, incluindo uma maniçoba, que provou e gostou.
O ativista Abrahim Farhat, o Lhé, foi receber a embaixatriz no aeroporto e a acompanhou o tempo todo em Rio Branco. No sítio, com a naturalidade que lhe é peculiar, deixou-se fotografar ao lado de Nabiha com seu short samba-canção preto, que destaca sua pele cor-de-rosa e entre um “lero” e outro, se enfiava sob uma bica d’água para afastar o calor.
Apesar do nome, Nahida Tamimi Elzeben é brasileira. É filha de pai palestino e mãe gaúcha, descendente de migrantes alemães. É urbanista e restauradora de patrimônio cultural, mora em Brasília e tem dois filhos. A cada dois anos, visita a Palestina.
A embaixatriz veio ao Acre por conta das comemorações dos 62 anos da causa palestina. No dia 29 de novembro de 1947, a ONU votou um projeto para definir territórios e estabelecer a paz entre árabes e judeus. Mas, numa votação suspeita, definiu apenas a criação do Estado de Israel. Hoje, a organização procura se desculpar transformando a data no Dia Internacional da Causa Palestina, comemorado em muitas partes do mundo.
“Há 62 anos esse povo é massacrado para tentar fazer valer seus direitos”, disse o ativista Abrahim Farhat, membro do Comitê Acreano de Solidariedade à Causa Palestina e um dos organizadores do evento no Estado. Ele lembra que a questão é também dos acreanos, pois árabes e judeus lutaram na Revolução Acreana de 1902.
Nabiha deu palestra na Assembléia Legislativa e na Universidade Federal do Acre e na Uninorte, e ensinou bordado palestino numa oficina na Catedral de Rio Branco. Na Assembléia, declarou: “Precisamos de todo o apoio possível para que nos deixem ter o nosso estado palestino, que desocupem nosso território e deixem de destruir nosso patrimônio cultural”. Para ela, a cultura e a tradição palestina “é que nos mantém vivos como povo”.



A embaixatriz Nahida Elzeben entre indígenas acreanos




domingo, 7 de novembro de 2010

Labre passou pelo Acre em 1887

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 7nov2010
Escrito por Alceu Ranzi - Instituto Histórico e Geográfico do Acre


Antes do início da construção da Ferrovia Madeira Mamoré e antes também da idéia da ferrovia Transacreana de Euclides da Cunha, o Cel. Labre - fundador da cidade de Lábrea, na margem direita do Rio Purus, no Amazonas - idealizou a ligação ferroviária do Rio Madre de Diós na Bolívia ao Rio Aquiry, hoje Rio Acre. O pioneiro coronel deixou relatos de suas explorações entre o Rio Ituxi e o Rio Madeira.
Em nossos estudos sobre os geoglifos, foi a Dra. Denise Schaan que percebeu a importância desse artigo para a história, a geografia, a antropologia e a arqueologia do Acre. Abaixo o leitor terá um resumo (comentado) da viagem de reconhecimento do Cel. Labre, desde a margem esquerda do Rio Madre de Diós (Pando-Bolivia) até a margem direita do Rio Aquiry (Acre):

No dia 11 de agosto de 1887 partiram a pé da margem esquerda do Rio Madre de Dios, acima da atual cidade de Riberalta (Bolivia) e começaram a caminhada pelos varadouros indígenas na direção do Rio Acre.
Dia 14 chegaram na localidade Budha, no Rio Orton, possivelmente nas proximidades na atual cidade de Puerto Rico (Bolivia), confluência com o Manuripe.
No dia 15 pernoitaram na aldeia Nabedheçada, cujo chefe se chamava Tatachuma. Segundo a descrição do Coronel Labre, essa aldeia, dos índios Araúnas, tinha ídolos e templos.
No dia 17 chegaram na aldeia Mamuyeçada, com aproximadamente 200 habitantes da tribo dos Araúnas. Nessa aldeia Labre percebeu alguma forma de chefia organizada, templos e rituais. As mulheres eram proibidas de entrar nos templos, participar das cerimônias e saber a forma e os nomes dos ídolos. Os ídolos eram representados por figuras geométricas, polidas, feitas de madeira. O pai dos deuses era chamado Epymará, sua imagem tinha uma forma elíptica de aproximadamente 40 cm de altura. Também existiam ídolos de pedra de diferentes tamanhos. Nos chama a atenção os ídolos de formato geométrico, o que nos remete a pensar nos geoglifos acreanos.
No dia 19 chegaram em uma aldeia abandonada chamada Cuyneputhsúa. Essa aldeia ainda tinha uma boa casa, um pequeno templo, com um jardim de forma circular. Nesse local se encontraram com um cacique chamado Tata Runa, acompanhado de suas duas esposas e dois filhos, que estava no lugar, entre outras coisas, para visitar o templo. Aqui o templo, com um jardim circular também nos remete aos geoglifos.
No dia 24 chegaram na margem direita do Abunã (ainda na Bolivia), onde pernoitaram. No dia 25 cruzaram o Abunã e ao final do dia chegaram em uma aldeia abandonada, chamada Huatchaputhsua. Apesar de abandonada, essa aldeia ainda tinha uma grande casa, em bom estado de preservação e um templo com duas portas. Dentro do templo ainda havia vários ídolos, ornamentos e armas. Possivelmente essa aldeia esteja relacionada aos campos do Gavião, nas proximidades da atual cidade de Capixaba (Acre).
No dia 27, próximo do meio dia, passaram por uma grande clareira (campo da natureza) de mais de 5 km de diâmetro, tendo, no meio, duas grandes casas abandonadas, onde encontraram duas grandes vasilhas, de argila queimada, com aproximadamente 1 metro de altura e muitos ornamentos dentro de alguns jamaxis. Nesse local estava um índio, guardando a plantação de coca, a qual era bastante consumida. Esse poderia ser o nosso conhecido Campo Esperança, próximo do Gavião?
No dia 28, viajaram por uma boa estrada (varadouro), passaram por três aldeias com boas casas e agricultura. Ao final do dia chegaram à Canarana. Segundo o mapa que acompanha o diário de Labre, essa aldeia, estaria localizada entre as atuais cidades de Capixaba e Senador Guiomard (Quinari).
No dia 29, após passarem por duas aldeias de Apurinãs, eles chegaram ao local chamado Brejo da Ponte, uma colocação de centro, com seringueiros brasileiros, de propriedade de um senhor chamado Manoel Joaquim (pelo nome, possivelmente um Português). Lembrar que estávamos em 1887, e Labre estava trilhando território boliviano.
No dia 30 de agosto de 1887, saíram às 5 da manhã do Brejo da Ponte e ao meio dia atingiram o Rio Acre, na sede do seringal Flor do Ouro, propriedade de Geraldo Correia Lima. Na época, apesar da região pertencer à Bolívia percebe-se a forte influência brasileira, pelos nomes das colocações e pelo nome dos seus proprietários.
Essa localidade, Flor do Ouro, como se verifica no documento “Navegação do Rio Acre” de Plácido de Castro de 1907, situa-se acima do Riozinho do Rola e abaixo do Benfica. Na época da morte de Plácido de Castro, em 1908, Flor do Ouro, em frente à boca do Igarapé Distração, pertencia a Alexandrino José da Silva, o assassino.
No mapa que acompanha o relato da travessia do Coronel Labre, nota-se que o Rio Acre já era conhecido por Aquiry. Labre certamente conhecia os relatos da viagem de Chandless pelo Rio Aquiry, realizada em 1865. Pelos índios Canarana era também chamado por Muchanguy, no mapa o nome foi anotado (entre parênteses).
Para Fawcett o nosso Rio Acre originalmente se chamaria Macarinara, corruptela de Magarinarran, na língua dos índios Araúnas (Araonas). Para o mesmo Rio Acre ainda vamos encontrar as denominações de Yasiri, Uwakuru, Uaquiry e Enosagua - rio de águas amarelas.
Causa estranheza que no mapa anexo ao artigo, não há referências à localidade Volta da Empreza, sede do Seringal Empreza que teria sido estabelecido em 1882 por Neutel Maia, portanto cinco anos antes da chegada do Cel. Labre ao Rio Acre.
De outra parte, no mapa, que acompanha o artigo do Coronel Labre, está plotada a localidade Nova York como ponto inicial da ferrovia proposta. Surge então uma pergunta: Seria Nova York o primeiro nome da nossa atual Rio Branco?

Fontes:

- Castro, Genesco de. O Estado Independente do Acre e J. Plácido de Castro Excerptos Históricos. Senado Federal, Brasília, 2002.
- Castro, Plácido de. Navegação do Rio Acre. Typ. Do Jornal do Commercio, de Rodrigues & C., Rio de Janeiro, 1907.
- Chandless, W. Notes no the River Aquiry, the principal affluent of the River Purus. Journal of the Royal Geographical Society, 36:119-128, London, 1866.
- Fawcett, P.H. Exploration Fawcett. Phoenix Press, London, 312 p. 2001.
- Labre, A.R.P. Viagem exploratória do Rio Madre de Diós ao Acre. Rev. Soc. Geográfica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 4 (2):102-106, 1888.
- Labre, A. R. P. Colonel Labre’s explorations in the region between the Beni and the Madre de Dios Rivers and the Purus. Proceedings of the Royal Geographical Society and Monthly Record of Geography, Vol.11, Nº 8 (Aug.1889), pp.496-506, London, 1889.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pela estrada rumo aos Andes

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 31out2010


Escrito por Por Fernanda Birolo


Apesar da proximidade geográfica, somente nestes últimos anos nós brasileiros, e especialmente os acreanos, estamos de fato nos “acercando” do vizinho Peru. No turismo, grandes facilidades surgiram recentemente, com uma linha regular de ônibus que sai de Rio Branco rumo ao país andino, e a partir deste ano também um voo internacional que liga a capital do Acre à do Peru (Lima) e à capital do Império Inca (Cuzco).
Mas aos mais aventureiros não se pode negar que o melhor caminho é mesmo pela estrada. Desfrutar das belíssimas paisagens, deixar que o corpo se adapte lentamente ao clima e apreciar a passagem da planície amazônica para as montanhas faz valer todo esforço de uma longa viagem.
Saindo de Rio Branco, no Acre, são 1.130 quilômetros de estrada até Cuzco, num passeio que dura quase dois dias. A primeira etapa do trajeto é em território brasileiro, até a pequena cidade de Assis Brasil. Este é o ponto de fronteira entre os dois países, onde se chega pela BR-317, percorrendo 344 quilômetros desde a capital. Daí em diante se ingressa na Amazônia peruana.
Um pernoite pelo caminho é obrigatório para uma viagem segura, e a cidade de Puerto Maldonado, a 230 quilômetros da fronteira, é o local mais apropriado. Até lá a estrada é completamente asfaltada, e enquanto a ponte da cidade não está terminada, a travessia do rio Madre de Dios é feita em balsas - pequenas ou grandes, a gosto do freguês.
Chegando cedo a Maldonado, é grande a tentação de seguir a viagem, pela curiosidade e para se sentir mais perto do destino. E aí o viajante desprevenido pode ter surpresas, pois não encontrará mais um local com boa estrutura no caminho. A melhor pedida é ficar, experimentar uma deliciosa pizza peruana e ter um bom descanso para os desafios do dia seguinte.


Chegando às montanhas
Após cruzar a fronteira, as pessoas, as casas, os costumes já nos deixam visível que estamos em outro país. Mas é depois de Puerto Maldonado que se começa a perceber as mudanças de paisagem. Aos poucos aparecem as subidas, e logo o corpo sente que a altitude aumenta.

Em apenas um dia, saímos de cerca de 200 metros acima do nível do mar e chegamos a quase cinco mil metros, na passagem pelo ponto mais alto da estrada, próximo à pequena cidade de Marcapata. Essa enorme variação é um convite para o chamado “soroche”, ou “mal da altitude”, que aos pouco acostumados provoca dores de cabeça, tontura, dificuldade na respiração, e até mesmo uma certa “lentidão” no raciocínio.

Mas séculos antes de nós os moradores dos Andes já conheciam uma boa solução para esse mal. Nas cidades e vilarejos do caminho se podem comprar, a baixo preço, saquinhos deste remédio. A folha de coca (que não é droga), colocada na boca para que seu sumo seja ingerido aos poucos, traz quase como milagre um alívio desses sintomas. Não à toa já era considerada planta sagrada pelos Incas.
Além dos nossos corpos, também os equipamentos percebem a diferença da altitude e do frio que vai aumentando. Máquinas fotográficas, filmadoras e até mesmo o veículo pode manifestar algum “desagrado” com o novo clima. Também os produtos embalados como cremes, desodorantes e perfumes sentem a pressão, e podem chegar a vazar. Mas isso não chega a ser razão para preocupação, e sim para estar atento aos efeitos.


Nas curvas do caminho
O melhor programa no passeio é admirar as paisagens. As imagens vistas a cada curva parecem pintura à mão, feitas com todo capricho. Rebanhos de ovelhas e lhamas lembram imagens de filmes. E os picos nevados, tão próximos, fazem parecer que estamos, talvez, noutro continente.

Mas quando as montanhas se aproximam, aí está uma boa razão para ficar em estado de alerta. Misturadas à exuberância dos Andes, as curvas da estrada viram parte da beleza das paisagens, e, por outro lado, representam também o perigo maior da viagem, exigindo uma velocidade reduzida e muita atenção do condutor.

A estrada, no seu trecho peruano, está quase concluída, e é de uma qualidade incomparável mesmo às melhores rodovias brasileiras. Uma espessa e consistente camada de asfalto, boa proteção na beira das montanhas e adequada sinalização trazem mais segurança aos viajantes que por ali passam.

Alguns trechos ainda estão em obras, e os trabalhos correm dia e noite quase sem parar. Mesmo quando o sol se põe, gigantes holofotes iluminam os locais para que os trabalhadores possam continuar seu serviço. E há sempre o risco de se deparar com uma paralisação no caminho, quando alguns trechos são interditados, de dia, até mesmo durante horas. Então é preciso reajustar os planos de horários, e paciência para esperar.

Não havendo nenhum imprevisto, a viagem de Puerto Maldonado a Cuzco, sem pressa e com paradas para contemplar as paisagens, dura de dez a doze horas. Saindo cedo da manhã, é possível chegar em tempo de apreciar o deslumbrante pôr-do-sol por entre as montanhas. E afinal, entrar em Cuzco e ver suas luzes e seu encanto renova as energias para seguir desfrutando de tantas outras maravilhas do Peru.


E meu carro chega lá?
Muita gente ainda acha que só carro grande e com tração é capaz de enfrentar o desafio de subir os Andes. Engano. E digo por experiência: chegamos tranquilamente a Cuzco em um carro de passeio, motor 1.6. Na estrada, mesmo nos desvios e nos trechos que ainda não estão prontos, já não há motivos para temer.
Preocupação com o veículo deve ser para a entrada no país. Uma série de papéis é exigida na fronteira, como documento do veículo, carteira internacional de motorista do condutor, autorização autenticada do proprietário para que o condutor entre no país com seu veículo - no caso de não ir em carro próprio - e, claro, o passaporte ou outro documento apresentado na entrada do país. 





quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Índia Quéchua é ministra na Bolívia

Durante a II Feira Panamazônia de Economia Solidária realizada em Rio Branco (AC) no período de 19 a 24 de outubro, e que contou com a participação de oito paises latino-americanos e 300 expositores, a ministra boliviana Antônia Medrano chamou atenção por sua simpatia e engajamento na política de economia solidária. Na ocasião, a jornalista Onides Bonaccorsi Queiroz a entrevistou para o jornalzinho da Prefeitura, Meu Lugar, escrevendo o belo texto abaixo:

Meu doutorado é a vida

*Onides Bonaccorsi Queiroz

Ao chegar ao Seminário Latinoamericano de Economia Solidária, evento integrante da Feira Panamazônia, tratei de perguntar sobre a ministra boliviana ali presente e minha informante, da coordenação do evento, foi muito clara:
– Está na lá na frente do auditório, vestindo uma blusa branca com flores coloridas. É uma pessoa bem agradável.
Dirigi-me ao espaço, alcancei a primeira fila e foi fácil localizá-la: era clara e trajava um vestido simples e charmoso, com o toque artesanal de bordados coloridos, que me pareceu perfeito para a ocasião, dada a tônica do evento e adequado à função que exerce, estritamente relacionada com a economia informal. “Mirna se enganou.” – pensei. “A roupa dela é bege. Mas tem florzinhas mesmo.” Dirigi-me, então, a essa mulher e perguntei:
– A senhora é Antonia Medrano?
– Não. É esta – e apontou para o seu lado direito.
Quase caí de costas com o susto: a ministra era uma índia quechua, com traje típico, de chapéu e tudo! Por essa eu não esperava.
Ai, que gafe! Em fração de segundos, tentei argumentar, comigo mesma, que o que causara o engano foram as tais florzinhas. Mas o olhar da mulher para mim, que assistiu a toda a cena impassível, era tão digno e transparente, que eu desisti de mentir. E admiti internamente: sem querer, exerci o preconceito. “Uma mulher do povo não pode ser ministra”, era a crença gravada na minha mente.
Então aceitei a minha falha. E reagi. Pedi licença para entrevistá-la, consentiu. Pareceu-me mesmo que já estava acostumada com esse tipo de confusão, o que confirmei mais tarde, com pelo menos duas pessoas que caíram na mesma cilada que eu. Atendeu-me com atenção e gentileza. Quando começou a falar, com muita firmeza e propriedade, compreendi que ela tinha tanta consciência de sua identidade, que um ato de  discriminação qualquer não afetava sua segurança. Senti-me, de certa forma, perdoada.
E fiquei ainda mais curiosa de conhecer sua história. Contou-me que nasceu no campo, na localidade de Duraznos, e ali viveu, como lavradora, até os 11 anos de idade. Depois foi para Potosí, trabalhar como empregada doméstica. Casou-se aos 21, quando aprendeu a fazer artesanato têxtil. Foi então que começou a se envolver com movimentos sociais, sobretudo com mulheres e geração de renda. “Sempre quis aprender e ensinar”, diz ela. Tarefa que não fluía com tanta naturalidade, pois eram os anos setenta, de “gobierno muy duro”, relata. Mas foi dessa forma exposta a injustiças sociais gritantes que forjou seu caráter de batalhadora incansável pelos direitos do povo.
Pouco mais tarde, o marido a abandonou com três filhos pequenos, o que tornou sua tarefa ainda mais árdua. Ainda assim fundou, em 1989, a Associação Artesanal Boliviana Senhor de Maio, de economia solidária.
Criou os filhos, formou-os; Juan Carlos é engenheiro agrônomo, Benjamín é técnico superior em eletricidade e Miguel Ángel, dentista. Tem quatro netos: “un varón y tres mujeres”.
Em 2007, elegeu-se vereadora por La Paz. Angariou ainda mais visibilidade e em janeiro deste ano foi empossada Ministra do Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural da Bolívia pelo presidente Evo Morales.
Sabe que alcançou o elevado cargo devido ao valor supremo da sua experiência: “o meu doutorado é a vida”. Trabalha muito. Marca reuniões com os líderes dos movimentos sociais às 5 da manhã, o único horário livre que tem. Mostra-se profundamente tocada com o problema da fome, e no seu discurso comove os presentes.
Quando fala de sua infância, vê-se o que a impele a ser tão verdadeira e forte. Pequena, chegava a passar dois ou três dias sem comer e conta que seu estômago doía de fome. Diz, também, que quando era doméstica, davam-lhe “qualquer coisa para comer”. As experiências terríveis, como não poderia deixar de ser, marcaram-na profundamente. Por isso entende que o mais fundamental dos direitos sociais é o de comer.
De minha parte, declaro que aprendi, ou pelo menos comecei a aprender a minha lição, que, a bem da verdade, é a lição de todos os seres humanos. E tem implicações diretas sobre a economia. Já passa da hora de cada um se responsabilizar, pessoalmente, em abandonar os velhos modelos centralizadores e autoritários, o orgulho, a cobiça, o individualismo. Está na hora de saltar para a instância coletiva. Para a cooperação e compartilhamento, atitudes que ainda podem salvar o planeta, a que Antonia chama tão carinhosamente de “Madre Tierra”. Está na hora da economia solidária.

* A jornalista Onides Bonaccorsi Queiroz nasceu no Paraná, mas vive em Rio Branco, Acre, desde 2010. Escreve semanalmente no jornalzinho Meu Lugar, da Prefeitura e assina o blog verbodeligacao.wordpress.com onde expressa forte sabor de literatura.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Amazônia precisa de cientistas


Ao abrir, na manhã de segunda-feira (18) em Rio Branco, Acre, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o cientista Ennio Candotti, presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) criticou e ironizou o Ministério de Ciência e Tecnologia, o CNPq e outros órgãos responsáveis pelo desenvolvimento científico e tecnológico da Amazônia. Ele disse que “ não haverá paz nem sustentabilidade enquanto não se questionar os modos atuais de intervenção na natureza”.

Ao responder à pergunta da platéia - constituída, principalmente, de estudantes de níveis médio e universitário, - sobre o que fazer se os órgãos de ciência continuam com olhar torto para a Amazônia, Candotti, que é biólogo e atualmente comanda experiência de vanguarda no Museu da Amazônia (MUSA), de Manaus, respondeu com ironia: “ Talvez tenhamos que pressionar com tanques de guerra”!

O cientista declarou ser imprescindível que planejadores e pesquisadores aprendam a conciliar o conhecimento científico com o conhecimento dos que vivem na floresta; do contrário, os programas de desenvolvimento regional com o rótulo da sustentabilidade se limitarão a retirar da região, de forma sempre predadora, apenas o que já é conhecido dos mercados.

Ennio Candotti recomendou aos jovens que sejam curiosos e não aceitem qualquer proposta de desenvolvimento para a Amazônia. Ilustrou sua preocupação informando que em Coari, no Estado Amazonas, a Petrobrás explora petróleo, mas a 10 quilômetros de lá tem uma aldeia indígena que vive na extrema miséria. “ A ciência - enfatizou, - não fará sentido se não ajudar acabar com a miséria humana”.

Os futuros cientistas, segundo Ennio Candotti, deverão aprender a conversar com as formigas e as onças se quiserem entender de verdade a Amazônia. As formigas, explicou, não têm celular nem GPS, mas se comunicam em rede e se juntam com incrível rapidez para carregar migalhas de pão deixadas sobre uma mesa. Esta é uma ciência que os que vivem na floresta parecem mais próximos de entender, embora enfrentando discriminação e ceticismo dos acadêmicos.

A índia Taiza, de 12 anos, do grupo indígena a Saterê Awé, sofreu constrangimento numa escola amazonense de não-índios por declarar numa redação que gostaria de ser “ farinheira” . Os professores e alunos riram e debocharam dela que, entretanto, tinha argumento forte: queria aprender a fazer farinha para não deixar que os membros de sua tribo viessem a passar fome. “ Saber fazer” , inclusive farinha é muito importante, disse o cientista, e ser “ farinheira” de profissão também.

A riqueza gerada na Amazônia pode ser enorme e socialmente justa, desde que a região não seja explorada como depósito de coisas conhecidas dos mercados. Que não tenha que vender preferencialmente petróleo, madeira (mesmo certificada) ou Carbono (porque está na moda). “ Não é possível que uma floresta que tem uma diversificada e rica microbiologia não tenha produtos mais interessantes a oferecer” – disse Candotti, exemplificando: “ Só o veneno de uma aranha vale mais que todo as árvores existentes em 1 hectare da floresta” . Os óleos e as informações que estão la no meio da floresta valem milhões de dólares.

Entretanto, a regiâo precisa contar com pesquisa científica e com tecnologia. O ideal, segundo Candotti, é que 300 a 400 mil cientistas pudessem estar pesquisando cada quilômetro quadrado da região, na atualidade. “ E as instituições de pesquisa, bem como os órgãos de planejamento não podem continuar subestimando o conhecimento dos que vivem na floresta”.

domingo, 17 de outubro de 2010

Lula: o amigo do Acre

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 17out2010
Em dezembro de 1988, Lula discursa junto ao caixão de Chico Mendes, no velório dentro da igreja de Xapuri

Ainda como líder metalúrgico na região do ABC paulista, em fins dos anos 70, Luís Inácio Lula da Silva começou sua amizade com o Acre. De lá para cá, nunca deixou de participar dos acontecimentos sindicais e políticos que marcaram mudanças fundamentais na vida dos acreanos. Ele já fez 15 visitas ao estado como sindicalista, deputado federal e como Presidente da República.

Em julho de 1980 participou em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia, de um ato de protesto pelo assassinato do presidente do sindicato dos Trabalhadores Rurais Wilson Pinheiro, de tocaia, dia 21, a mando de fazendeiros. Ao discursar de um palanque improvisado na carroceria de um caminhão, Lula declarou:
“Está na hora da onça beber água”!

O recado foi entendido pelos companheiros de Wilson que, ao retornarem para suas colocações de seringa toparam no caminho com o capataz da Fazenda Nova Promissão, Nilo Sérgio, principal suspeito do crime, e meteram bala nele. O caldo engrossou e mais de 40 seringueiros foram presos pela Polícia Militar enquanto Lula e outras lideranças como Chico Mendes e o delegado regional da Contag, João Maia, foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional do regime militar.

No dia 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi morto em condições semelhantes pelo peão Darcy Alves a mando do pai fazendeiro Darli. Desta vez, Lula, na condição de deputado federal (PT) fez longo e polêmico discurso dentro da Igreja de Xapuri, ao lado do caixão do líder seringueiro durante o velório.

Como diretor da precária TV Aldeia (TV Educativa) na época, encaminhei a gravação em fita Umatic. Nas eleições de 1990 para o Governo do Estado, o candidato Edmundo Pinto, do PDS (partido antecessor do DEM, hoje parceiro do candidato José Serra), ganhou do estreante Jorge Viana (PT) no segundo turno. Preocupado com o destino que seria dado à fita na nova administração, favorável aos fazendeiros, tomei o cuidado de fazer cópia e levar comigo para o Amapá, onde vivi 13 anos, como assessor do governador Joào Alberto Capiberibe (1995-2002) e editor do jornal Folha do Amapá.

De volta ao Acre, em 2003, consegui fazer uma cópia digital dessa e de outras 33 fitas que passei para o acervo da Biblioteca da Floresta em 2008.

Agora, 22 anos depois, estou tornando público o conteúdo dessa fala histórica que marca a relação também histórica do atual Presidente com o Acre, desde aqueles tempos tristes.


Discurso no velório (1988):


O Chico termina numa entrevista que ele deu ao jornal do Brasil dizendo o seguinte: “Eu quero ficar vivo para ajudar a salvar a Amazônia, eu não quero morrer, porque esse negócio de ato público depois da morte, esse negócio de grandes enterros acaba no dia seguinte”. Esse era o pensamento do velho Chico, há tempo, pois ele participou junto comigo do ato de solidariedade ao companheiro Wilson Pinheiro, morto em Brasiléia dento do sindicato em 21 de julho de 1980, e falou isso (...).

Chico conseguiu juntar a bandeira do direito ao trabalho, do direito à vida dos trabalhadores desse Estado e dessa região com uma luta pela defesa do meio ambiente. Por quê? Porque preservar o meio ambiente para os trabalhadores que moram na região amazônica, preservar as árvores, preservar as castanheiras, preservar as seringueiras é, na verdade, preservar o direito do feijão e do arroz de cada criança dessa região. Porque o gado traz riqueza pro dono do gado, mas não traz sequer carne para os companheiros que trabalham aqui. E o que o companheiro Chico queria? Ele queria pura e simplesmente que deixassem a mata, que era instrumento de sobrevivência de milhares e milhares de trabalhadores, em paz; que fossem plantar gado noutro lugar, criar gado noutro lugar, mas deixassem aqui a mata, as seringueiras, as castanheiras, pros trabalhadores sobreviverem.

Na TV Globo o doutor Romeu Thuma, a quem o Chico enviou várias cartas, dizia o quê? Que a culpa do que está acontecendo aqui é da Polícia Militar... Mas nós precisamos dizer que a culpa não é apenas da polícia militar, a culpa é de todos eles juntos: é da polícia federal, é da polícia militar, da justiça brasileira, da Presidência da República (José Sarney- PMDB), porque, quando eles inventam que vêm aqui desarmar o povo, quem que eles desarmam? Eles pegam a espingardinha de caçar preá do trabalhador e deixam os fazendeiros com metralhadoras, calibre 12.

O companheiro Chico não ganhou as eleições (Chico foi candidato a deputado estadual em 1982 e a prefeito de Xapuri em 1985) e alguns imaginavam que a partir daí fosse desanimar. Qual não foi a surpresa dele: ao invés de desanimar, a luta do companheiro Chico ganhou outra dimensão; ele começou a ser reconhecido por organismos internacionais, pelo Banco Mundial, pelo BID, pelo movimento ecológico do mundo inteiro; começou a ser reconhecido, a ganhar prêmio, a viajar e a contar no mundo o que acontecia aqui; e começou inclusive a dar palpite, opinião sobre empréstimos que empresas estrangeiras ou bancos estatais iam fazer aqui, e por isso aumentou o ódio dos grandes proprietários contra o companheiro Chico. Aumentou o ódio a ponto de culminar com a morte dele no dia 22.

O quê que essas pessoas imaginam? Será que essas pessoas são tão burras que imaginam que matando Chico Mendes, mataram a luta do Chico Mendes? Será que eles não percebem (aplausos), será que esses ricos não têm exemplo na história, será que eles não percebem que esse mesmos grupos de ricos mandaram matar Jesus Cristo há dois mil anos atrás? E o povo não esqueceu as idéias de Jesus Cristo. Será que esses mesmos não estão lembrados que foram eles que mandaram matar Tiradentes, esquartejar e colocar sua carne pendurada nos postes, para que o povo nunca mais se lembrasse quem era Tirandentes? 30 anos depois o Brasil conquistou sua independência.

Eu queria dizer pra vocês uma coisa bem simples, pra cada um de vocês guardar na cabeça. Vocês conheciam bem o caboclo Chico, vocês sabiam bem o que Chico queria, vocês sabiam o que Chico dizia, vocês sabiam o que o Chico pensava. Pois bem, o que o companheiro Chico, que deve estar no céu nesse instante, espera de cada um? Ele espera que aumente a coragem e a disposição de luta de cada companheiro. Ele dizia sempre: no dia em que eu morrer meus companheiros vão se dobrar, cada um vai valer por 10 e a luta vai continuar. E é isso que tem que acontecer (aplausos). Porque se agora houver por parte dos trabalhadores e de todos nós, medo e preocupação, o quê que vai acontecer? Eles vão ficar rindo da vida e vão matar mais. O quê que nós deveremos esperar? Em primeiro lugar, nós achamos que o povo brasileiro quer justiça, e que a polícia prenda esses assassinos do companheiro Chico.

Se é verdade que esses dois sujeitos (Darli e Alvarino Alves) tinham 30 mil hectares aqui; se é verdade que eles eram bandidos em Minas e no Paraná e já vieram fugidos; se é verdade que aqui eles ficaram contratando grileiros e já mataram mais de um trabalhador, e se é verdade que essa propriedade deles pode até ser grilada... O quê que deveria acontecer como atitude nobre do governo? O governo deveria desapropriar essa terra e dar para os trabalhadores rurais cultivarem, ao invés de deixá-las ficar nas mãos de bandidos e grileiros; porque, se o governo fizesse isso e cada fazendeiro que manda matar alguém perdesse sua terra, na verdade essas pessoas iriam ter medo de continuar matando trabalhador rural (...).

Nós precisamos dizer em alto e bom som: o governo precisa começar a investigar cada crime colocando policiais sérios pra fazer isso, porque nós sabemos que tem muitos policiais que são capachos de fazendeiros (aplausos) na cidade. É preciso que haja seriedade e vocês sabem, companheiros, pra terminar, que cada um de nós, tanto nós de São Paulo, como companheiros do Acre, de Rondônia, que chegaram aqui agora, sabemos que temos um compromisso sério: é não deixar a coisa agora esfriar, é não deixar, sabe, o que eles querem, que o povo esqueça o companheiro Chico Mendes.

Agora é que nós temos que mostrar pra eles que nós vamos fazer a luta do companheiro Chico Mendes ser conhecida nesse país. Agora que vamos arrumar solidariedade, não apenas pra dar sobrevivência para a companheira do Chico e de seus filhos, mas arrumar solidariedade pra dar ajuda concreta à luta dos trabalhadores que defendem a Amazônia, a luta dos trabalhadores que defendem o seringal, a luta dos trabalhadores que defendem a manutenção das castanheiras e a luta dos trabalhadores que brigam por reforma agrária.

A classe dominante tá ficando com medo, porque ela sabe que a classe trabalhadora tá amadurecendo; ela sabe que a classe trabalhadora tá tomando consciência, ela sabe que aqui hoje tá PV, PT, daqui a pouco chegam companheiros do PMDB, daqui a pouco chegam do PDT, sei lá, o movimento sindical... Ela sabe que tá crescendo a solidariedade e começa a ficar com medo.

Eu acho que é um compromisso dos partidos políticos progressistas, do movimento sindical, da CUT, da CGT, que a gente precisa transformar cada palavra do Chico numa profissão de fé por esse país aí afora. Daqui a pouco eles vão perceber que o que Chico falava aqui e era ouvido apenas pelos companheiros do sindicato dele vai ser discutido lá no agreste de Pernambuco, lá na Bahia, na favela de São Paulo (...).

Nós deveremos eleger o Chico, hoje, o símbolo da descrença desse governo, deveremos eleger o companheiro Chico hoje como o mártir da classe trabalhadora camponesa desse país, porque o que ele fez foi dedicar 44 anos da sua vida à luta pela liberdade dos trabalhadores.

A morte do Chico não foi o fim, ela foi o início da libertação da classe trabalhadora brasileira.

domingo, 10 de outubro de 2010

Luis Jorge Salinas

E-mail enviado ao blog:


Estimado Elson:
Estive lendo seu blog na nota soubre o mapinguari ,him quero comentar vc que eu sou testigo desses animais,acredite que e real.
recentemente fiz um livro relatando issos avistamentos e 3 expediçoes que fiz nos ultimos anos ate com apoio do biologo da tv Richard Rasmussen com quem fiz uma grande amistade e acredita
na existencia deles.
pode olhar meu blog informativo das minhas concluciones www.luisjorgesalinas.blogspot.com
tambem tenho atualizado contato com David Oren quem ja tem meu livro .
Mando um abrazo
Luis Jorge Salinas-Explorador

domingo, 3 de outubro de 2010

Escolha ideológica

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 3out2010

Ilustração da ditadura militar brasileira de 1964, publicada na coleção Retrado do Brasil pelos jornalistas Mino Carta e Raimundo Rodriges Pereira
Jânio Quadros foi o meu primeiro voto e também minha primeira decepção política. Em 3 de outubro de 1960, portanto há 50 anos, me tornei um dos 5,6 milhões de eleitores brasileiros que o elegeram Presidente do Brasil pela UDN. Em Seis meses de mandato, entretanto, ele só se destacou por ter proibido o biquíni e adotado o uniforme cubano para os funcionários públicos federais... Por fim, renunciou dizendo-se pressionado por “forças ocultas”.

O vice Jango Goulart, eleito pela coligação PTB-PSD (na época, o vice era escolhido em votação separada), assumiu o posto após agitadas discussões políticas e queda de braço com as forças armadas. Os partidos ou organizações de esquerda formadas por cisão do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e PC do B (Partido Comunista do Brasil) tinham como referências revolucionárias, Cuba e China.

Jânio Quadros me convencera ao prometer em campanha eleitoral (pelo rádio) varrer toda a sujeira da administração pública do País. Era populista, bom de discurso, de tal forma que nem percebi que sua vassoura era apenas um brochinho de lapela. Tal qual o broche-espada do principal concorrente, o General Henrique Lott.

Lembrei de meu vacilo nestes últimos dias da campanha política versão 2010 no Acre, ao ver pela televisão uma jovem e bela acreana anunciar que empregará seu primeiro voto para eleger um candidato populista ao Senado. Espero que ela não sofra tanto!

Em 1963, concluí o segundo grau num colégio público do Amapá, para onde me deslocara em 1959, e tomei uma decisão corajosa: larguei o emprego na Vasp para aventurar-me em Belo Horizonte, capital que alimentava meus sonhos. Tinha acabado de ler o livro “Encontro Marcado”, do escritor mineiro Fernando Sabino e queria viver algo parecido por lá. Em janeiro, fiz vestibular e em março comecei a cursar Belas Artes na Escola Guignard, e cinema na Universidade Católica.

Com mais um pouco de sorte, arrumei trabalho aos domingos como redator de notícias da Rádio Inconfidência (do Estado), depois trabalhei também na Rádio Tiradentes (da rede Globo). Nesta última começava de madrugada levantando as ocorrências policiais para o noticioso que ia pro ar às 7 horas.

Ganhava o suficiente para pagar a pensão e a lavagem de roupa, mas não sobrava para o transporte. Meu deslocamento tinha que ser na “pátria amada”. Tudo bem, sonho e coragem não me faltavam. Queria ser crítico de cinema e artista plástico, começara a viver em ambiente universitário freqüentando barzinhos e livrarias. Lia tudo: romances, obras de marxismo, Sartre, Bertrand Russel, Bakunin, biografias... Era um aprendizado rico para um jovem saído das barrancas do seringal Nova Olinda, Rio Iaco, Sena Madureira. Acre.
Mas a alegria durou pouco. Em 31 de março de 1964 os militares deram o golpe demovendo Jango, Brizola e outras lideranças civis do Poder, oficializando a Ditadura. Todas as liberdades foram suprimidas, os trabalhadores e os jovens conscientes se tornaram suspeitos.

Na pensão de dona Osmira no bairro da Floresta, onde eu fazia as refeições, fomos surpreendidos durante o almoço por soldados e agentes do DOPS armados de metralhadora. Todos com as mãos pra cima, encostadas na parede.

Sustos como esse viraram rotina e os sonhos deram lugar à indignação. Timidamente, comecei a me envolver com pessoas que percebiam a anormalidade e se dispunham lutar contra ela. Essa compreensão me veio através dos versos de João Cabral de Melo Neto em “Morte e Vida Severina”: “Muita diferença faz/ entre lutar com as mãos/ ou abandoná-las para trás”. O artista plástico, o critico de cinema e mais tarde o tecnólogo em Química Industrial (curso que aceitei fazer para ter direito a uma bolsa da Sudam) foram aos poucos pro espaço. Sobrou um militante desajeitado, mas disposto a correr riscos.

E nada mais de eleições, e nada mais de liberdade, e nada mais de cidadania. Em 1969, o líder estudantil João Alberto Capiberibe (que foi governador e senador do Amapá nos anos 1990), com atuação no Pará e no Amapá, apareceu em BH arrebanhando pessoas para a luta armada. Tinha conversado com Carlos Marighela, dirigente da ALN (Aliança Libertadora Nacional) em São Paulo, e recebido a missão de ajudar a montar um núcleo de guerrilha no Pará. Eu e o Tito Guimarães Filho, colega de trabalho na Rádio Tiradentes, topamos e saímos os três sem lenço e sem documento, de ônibus, para Belém. Ficamos instalados num “aparelho” no bairro do Marco.

Lá, em contato com outros militantes demonstrei minha insegurança, manifestei discordância e terminei por ser excluído do grupo. Viajei para o Amapá que também acolheu, alguns dias depois, o Tito Guimarães, que tentou antecipar a guerrilha requisitando 100 burros para trabalhadores rurais de São José do Capim e se deu mal. Com a ajuda do padre italiano de esquerda, Caetano Maiello, assumimos a editoria do semanário A Voz Católica e programas na Rádio Educadora, ambos da Prelazia de Macapá. Na Rádio chegamos a produzir o programa “Alguma Coisa Antes que Anoiteça”, diariamente, a partir das 17h30, ensinando princípios marxistas. Mas outro padre nos descobriu e nos afastou do projeto.

Só tivemos tempo de registrar, na capa de A Voz Católica, nossa indignação diante do assassinato de Carlos Marighela pelos militares, em São Paulo, em 1969: “Morreu um grande brasileiro. Assassinado”! E vieram as prisões; do Capiberibe e sua companheira Janete quando tentavam escapar do cerco numa estrada do Maranhão; a do Tito em Belém; e a minha própria, em Macapá com transferência para Belém. Tito foi levado para o Rio Grande do Sul onde ficou preso incomunicável. Capiberibe conseguiu fugir do presídio São José, de Belém, e exilou-se no Chile com a família.

Eu vivi mais tempo cinzento, com liberdade vigiada e sem sonhos. Com mulher e um casal de filhos fui trabalhar como químico de uma indústria de Laticínios em Belém. Em 1974 tive uma recaída: larguei o Lacticínio e me tornei artesão fazendo entalhes em madeira. A barra pesou e voltei ao jornalismo alternativo, até ser contratado, em 1975, pelo jornal O Estado de S. Paulo, primeiro como correspondente no Amapá, depois como repórter regional baseado no Acre, por indicação do jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal.

Aqui, a partir de 1975 retomei o ânimo no jornal Varadouro e em outras lutas acreanas. E após 30 anos de abstinência, votei novamente para Presidente da República: em 1990 no Lula, mas deu Collor de Mello; em 1994 e 1998, novamente no Lula, mas deu FHC; em 2002 e 2006, finalmente, Lula começou a dar certo.
Agora tenho como opção para Presidente quatro candidatos com perfis de esquerda. O José Serra (PSDB) eu descarto, por seu elitismo paulistano. O Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) também descarto, com todo respeito, porque cansei do radicalismo sonhador. A Marina Silva (PV), sobre quem registrei na apresentação do livro “Amapá - Um Norte para o Brasil” que “faz política com a linguagem dos anjos”, deixo sob a responsabilidade dos mais jovens e mais sonhadores (e menos ateus) que eu.

Fico com a Dilma, presa e torturada pelos militares de 1964, porque essa dor eu conheço bem e sei que deve ser honrada. Também porque ela serve ao Projeto Acre ao qual estou entregue de corpo e alma, e ao qual Lula, seu padrinho político está envolvido desde 1978. Desejo um Acre livre dos destruidores de florestas e dos vis amantes do dinheiro.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Recado consciente

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 18set2010
Abrahim (Lhe) Farhat é o militante mais original e verdadeiro das lutas socioambientais do Acre

Esta semana fui pautado pelo Abrahim Farhat Neto, o Lhé, que se recupera de uma operação de hérnia. Ele me telefonou ainda na segunda-feira exigindo o espaço do Almanacre para conversar sobre a história política desta “terra velha”; e falou de alguns “poemas políticos” que gostaria de publicar. Fui à sua casa no início da noite de sexta-feira; está magro, abatido e sente dores quando anda.

Ele começou contando uma historinha eleitoral sobre o primeiro grande líder político do Acre, o major do exército que chegou a general José Guiomard dos Santos, nascido em Minas. Nas eleições de 1958 para deputado federal (eram duas vagas no então Território Federal do Acre), Guiomard foi fazer campanha num seringal e discursou para um grupo de seringueiros:

“Meus amigos, neste meu paletó (vestia um paletó de linho branco, impecável) nunca entrou dinheiro público’... Um dos seringueiros puxou a manga da camisa de outro e cochichou: “repare que ele está de paletó novo”!

Daí recua até 1955 para informar que a Casa Farhat, criada pelo avô libanês Abrahim há 100 anos, no segundo distrito de Rio Branco, foi que lançou na capital o gás de cozinha e o fogão Brasil, acabando com o fogão à lenha tradicional.

A informação, imaginei, tinha a intenção de marcar época. Naquele ano, de fato, entrava em cena o doutor Jonas Garcia, que se revelou notável puxa-saco do então governador Coronel Fontenele recebendo em troca a nomeação para comandar a Secretaria de Segurança Pública. Após mais algumas puxadinhas, virou presidente do Tribunal de Justiça com o direito de, na ausência do governador, assumir o cargo máximo do ex-Território.

Lhé contou que certo dia, chegou do Paraná, via Radional – serviço de rádio precursor do telex – um telegrama do Paraná pedindo ao governador em exercício que determinasse a prisão do puxador de carros Josias de Tal, que, como era sabido, se encontrava refugiado neste Território. Pois não era o próprio?

Mas Lhé não contou o desfecho, preferiu falar do surgimento do PTB e PSD, partidos criados na época e que conduziram a vida política do território por décadas. Viraram MDB e PDS, em seguida (durante a ditadura) PMDB e Arena, e agora aparecem misturados num balaio de siglas, entre as quais, DEM e PP.

Naquele tempo (1955), Abrahim Neto tinha 16 anos e tornara-se presidente de sala do Colégio Acreano iniciando-se na política estudantil. “Sem muita consciência”, passou 5 anos na mesma série fazendo militância. Após esse período, foi transferido (ou jubilado?) do Colégio Acreano para a Etica (Escola Técnica de Comércio) onde recebeu boas influências do sociólogo Hélio Kury (recém-falecido) e ficou conhecendo as idéias do educador Paulo Freire, que tratou de testá-las junto aos estivadores de Rio Branco.

Confesso que a essa altura comecei a me preocupar: a conversa se alongava, o espaço da coluna é pequeno e não atinava até onde o Lhé queria chegar. Bom, ele prosseguiu falando: sobre o primeiro governador eleito após a criação do Estado do Acre (1962), Zé Augusto, destituído pelos militares (1964), e de outra influência que lhe deu um norte político, o militante estudantil Elias Mansour, acreano que estudou no Rio e foi dirigente da UNE (União Nacional dos Estudantes). Elias e Hélio lhe ensinaram a ler Marx à noite, à luz de vela, na Casa ABC no segundo distrito.

Em 1966 chega a Rio Branco o bispo D.Giocondo, que cria o JESCA (movimento de jovens dentro da Igreja), e lá se vai o Lhé mergulhar na Teologia da Libertação. Candidata-se ao grêmio da Etica (1968) e enfrenta o governador da ditadura, Jorge Kalume, comerciante de Xapuri que fazia por merecer alguma patente, tão cioso era ele da orientação militar contra os esquerdistas. “Foi meu batismo de sangue: a primeira greve contra o monopólio da empresa de ônibus”.

Depois vieram as eleições descaradamente fraudadas. Prudente, não quis citar nomes porque “vai dar pau”! Mas lembrou a urna de Xerém que tirou a eleição de Alberto Zaire (PMDB) para o Senado, em 1978, e citou Poty Paschoal, que teve eleição para a Assembléia Estadual garfada.

Ah! Ele percebeu que a política não era “ficha limpa” nem no Acre, nem no Brasil inteiro. E que nepotismo parecia inerente ao poder público. Sentiu isso na família, pois a “brima” (o primo legitimo de Lhé) Paulo Maluf, quando governador de S.Paulo foi pego pelo Ministério Público surrupiando os recursos da merenda escolar para beneficiar a esposa. Recitou, então, seu primeiro poema circunstancial:

“Quem nasceu primeiro,

A galinha da dona Silvia (mulher do Maluf,

O pinto do Pita (ex-prefeito de SP

Ou o ovo do Maluf”?

Descobriu em seguida, fruto de seu amadurecimento político, que o eleitor também é corrupto e acolhe com naturalidade a máxima franciscana ”é dando que se recebe”, ou “toma lá, dá cá”.

Voltando ao seu perfil político: foi candidato ao Senado pelo PT em 1982 concorrendo com o tio Said Farhat, ex-ministro da Comunicação dos militares, com quem trocou insultos. E confirmou na zona rural a existência do eleitor mulateiro. No caso, duas eleitoras, filhas de um amigo que o convidou para almoçar uma galinha caipira. “Vamos embora que dessa mata do Abrahim não sai coelho não” – disseram as meninas correndo para encontro com outro candidato endinheirado.

E tome poema:

“Na minha grande Amazônia

Tem uma árvore que muito me gusta

O sagrado mulateiro

Que muda de casca e de cor”.

Mas o mulateiro, esclarece, muda por uma imposição biológica. Já o político ou eleitor mulateiro... As filas nos hospitais, o desemprego, a fome do povo decorrem dos interesses pessoais deles.

Finalmente, clareia o objetivo do entrevistado: ele quer puxar a orelha dos partidos de esquerda, inclusive do seu PT, aos quais lembra que “só tem duas formas de fazer revolução: pela luta armada ou pela educação política”. Claro que prefere a segunda opção.

A entrevista aconteceu na hora do programa eleitoral gratuito pela TV. Os candidatos trocavam xingamento e prometiam mundos e fundos. Lhé indagou zangado: “Por que em vez de imitarmos os adversários, não aproveitamos para educar o eleitor para a cidadania”? E, mais calmo, procurou ilustrar a queixa: “Estamos com dificuldade para eleger o Edvaldo (PC do B) para o Senado. Aí ficamos escolhendo algumas mães como marketing, esquecendo de falar das outras e sobre o que temos feito por todas elas”.

Deu outra lição: “A turma do DEM está acusando, querendo nos culpar pela violência que acontece no Acre e em todo o país. Eles acabaram com as liberdades e com a educação, instituíram a corrupção, desmontaram o estado brasileiro. Quando pegamos nosso estado (o Acre) a desgraça estava feita. Mas estamos consertando muita coisa. É disso que temos que falar. Da educação e da participação popular na construção de uma nova sociedade”.

Está dado o recado, Lhe. E se cuide!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Núpcias Vermelhas

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 12set2010
Adalberto Queiroz, pioneirismo no cinema amador acreano
Provavelmente, pouca gente pode dizer que já viu filme com esse título. Menos ainda um que tenha como ator principal o galã do Cinema Novo brasileiro, Geraldo Del Rey, e que tenha sido produzido, por devaneio, pelo acreano-boliviano Jimmy Barbosa, dono do Cine Acre nos anos 1980. “Núpcias” tem no elenco outra novidade: o doutor professor da Unicamp (SP), Mário Lima, acreano de Brasiléia que se tornou conhecido como autor de artigos acadêmicos publicados na imprensa local. Ele faz uma ponta de mau mocinho,vestido a caráter, que dispara um revolver e sopra a fumaça do cano no melhor estilo western. Quem diria! O cineasta acreano Adalberto Queiroz esteve presente no lançamento do filme em Rio Branco, em 1975, e não gostou: “Foi um fracasso” - disse sexta-feira passada, quando foi doar cópias restauradas de seus próprios filmes para enriquecer o acervo da Biblioteca da Floresta.

Na época, Adalberto já era veterano em dificuldades com o cinema local. Em 1973, por exemplo, filmara com equipamento super-8 o longa “Fracassou Meu Casamento”, que teve destino pior: foi apreendido pela Polícia Federal e recuperado somente em 1979, assim mesmo porque o autor foi a Brasília e insistiu em procurá-lo nos porões da Censura Federal. Lá, na companhia do censor encarregado que insistia em afirmar que o filme não existia naquela montanha de latas com rolos de 35mm (bem maiores) censurados, apontou: “É aquela latinha azul ali”!

Se tivesse ouvido o conselho do Adalberto, Jimmy não teria caído em desgraça com “Núpcias Vermelhas”. O autor de “Fracassou meu casamento” tinha acabado de rodar seu segundo longa, "Rosinha, a Rainha do Sertão” (1974), mas propôs fazer uma versão mais chique com o equipamento 35 mm do empresário. Afinal, a maquininha Super-8 nem som acoplado tinha. Era preciso gravar as falas, ruídos e música em gravadores comuns, para depois mixar a trilha sonora na película das imagens. Nessa tarefa, aliás, Adalberto era um craque: fazia o som de trote de cavalo com o dorso da mão direita, no que muito ajudavam seus dedos magros e compridos, e o som da água remexendo, também com as mãos, o produto numa pequena bacia. Seus companheiros do Ecaja (Estúdio de Cinema Amador de Jovens Acreanos), Teixeirinha e Toni Van completavama improvisação: atuavam, tocavam violão, operavam o projetor, pensavam os roteiros junto com ele. Também cuidavam da trilha sonora com a ajuda de toca-discos. Jimmy, claro, esnobou: preferia fazer algo profissional, uma obra-prima do cinema para concorrer em festivais. E lá se foi pra São Paulo e danou-se a gastar dinheiro. Montou estúdio, contratou operadores de câmera, técnicos de som, produção, montagem, atores secundários e extras. Para fazer par com Geraldo Del Rey, buscou uma atriz pouco conhecida, Ideli Costa, que trabalhara no filme de Waldik Soriano “Paixão de um Homem”. Pra encurtar a história: Jimmy teria gasto boa parte da venda de umas terras que herdou do pai no segundo distrito de Rio Branco e ainda ficou devendo o pagamento da equipe. Quando menos esperava, a turma de Sampa que não é boba, apareceu e lhe tomou tudo: estúdio, equipamento e filme. E nunca mais se ouviu falar de “Núpcias”. Mas, segundo Adalberto Queiroz, há anos, Jimmy sustenta que sua obra-prima está guardada em La Paz, na Bolívia.

Seria bom que fosse recuperado e valorizado como primeiro longa-metragem em 35mm produzido no Acre. De sua parte, o sobrevivente Adalberto Queiroz está cuidando de sua produção em Super- 8 e depois VHS, fazendo limpeza, nova dublagem e digitalização. Atrai muito ver suas caixinhas bem montadas, com títulos diversos, ao preço de 15 reais por unidade: “Rosinha, a Rainha do Sertão”, “Coisas da Vida”, “Um Crime, um Mistério”, “Horas Amargas”, “Revolução Acreana” e outras dezenas de filmes rodados a partir e 1973. “Fracassou meu Casamento”, por ter sido apreendido e desde então jogado nos porões da Censura, está dando mais trabalho para recuperar. Mas sairá numa próxima fornada.

Acreano nascido na Maternida de Bárbara Heliodora, mas foi gerado num seringal da Bolívia, na região do rio Abunã, Adalberto é hoje, aos 58 anos de idade, professor de História da Universidade Federal do Acre. Nas horas vagas, podemos vê-lo com uma “câmera na mão e uma idéia na cabeça” - expressão que foi palavra de ordem do notável cineasta brasileiro Glauber Rocha – registrando o Acre hodierno.

Ele contou na Biblioteca da Floresta que, em 1973, pensou em procurar ajuda junto ao governador Francisco Wanderley Dantas, considerado governador dos bois. Não conseguia agenda, nunca. Mas um assessor do homem lhe deu uma dica: esperá-lo pela manhã, à porta do Palácio. Dantas mostrou-se surpreso com aquele jovem de 21 anos que lhe abordou falando em fazer cinema. Mas logo o despachou, com estilo bovino: “Você quer um conselho? Vai plantar batatas!".

Coisas da Vida
Sinopse: Incursão no universo do cotidiano da vida urbana. Informa, de forma comediante, a sedução e a corrupção de menores e sugere ações e combate e proteção. É a primeira obra que questiona esse tipo de problema social no Acre até a década de 80, quando não havia nenhum tipo de política pública de proteção do menor.

Rosinha, a Rainha do Sertão
Sinopse: Retrata aspectos da chegada de sulistas ao Acre na década de 70, com a perspectiva de um novo modelo econômico baseado na pecuária, gerando um choque cultural motivado pela esperteza dos migrantes contra o homem acreano, ironicamente abordado entre drama e comédia.

Um Crime, um Mistério
Este filme resultou de uma oficina de cinema feito pela Ecaja em Rodrigues Alves, pequeno município do Juruá, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Acre. O roteiro e direção é de Iderlindo Lope, com a participação de outros alunos.

Horas Amargas
Sinopse: Retrata aspectos da violência urbana na cidade de Cruzeiro do Sul (AC), tendo no centro a mulher, o papel da sociedade civil organizada e do poder público no combate às diversas formas de violência por meio de ações preventivas e repressivas.

Obs.: Os interessados em obter títulos digitalizados da Ecaja podem fazer contato pelos fones (68) 8113-3028 e (68) 9994-5204.