terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caminhão da Segunda Guerra será museu volante

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 5dez2010
Este possante caminhão era utilizado para transpportar judeus
para os campos de extermínio de Adolf Hitler

As escolas estaduais e municipais de Rio Branco poderão, em 2011, contar com um museu volante, histórico e original, O projeto está sendo montado com incrível esforço e persistência individual pelo ex-repórter do jornal Varadouro, ex-advogado de Chico Mendes e das famílias de seringueiros expulsas (pelos fazendeiros) dos seringais nos anos 1970, o atual desembargador Arquilau de Castro Melo, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre.
Nas duas últimas décadas, o desembargador que nasceu em Cruzeiro, no Vale do Juruá, tem se dedicado a juntar peças históricas que encontra em mãos de famílias tradicionais, ou que recebe como doação diversas localidades do interior do Estado. Na sua residência na Chácara do Ipê, na capital, um belo “chapéu de palha” que construiu como área de lazer vai sendo tomado por essas peças.
Lá, já podem ser encontrados: o primeiro projetor de cinema que funcionou em Cruzeiro do Sul,aparentemente em perfeito estado; máquinas de costura Singer, ferros elétricos de passar aquecidos a carvão e bules coloridos diversos; faróis Aladim, fôrmas para confecção de sapatos de seringa, baldes, facas e porongas de seringueiro utilizadas na fabricação de borracha, entre uma centena de outros objetos.
Pendurada no teto do “chapéu de palha” tem uma réplica do avião DC-3 que, no ano de 1973, caiu em Sena Madureira matando várias pessoas, entre elas o saudoso bispo Dom Giocondo, criador das comunidades eclesiais de base e incentivador do Clube Juventus. O desembargador descobriu um artesão que trabalha com essas réplicas em outro estado, pagou uma grana pesada e conseguiu o avião que tem mais de metro de comprimento, com as cores e até prefixo da aeronave sinistrada.
Mas nada se compara a mais nova aquisição do desembargador. Trata-se de um caminhão do tempo da Segunda Guerra Mundial, fabricado em 1935, que nos anos cinqüenta foi levado para Cruzeiro do Sul pelos padres alemães que dirigem a Prelazia do Juruá. O veículo foi fabricado pela indústria Berna, alemã, adquirida no pós-guerra pela Mercedes Benz, e se encontra inteiro: diariamente, o desembargador entra em sua cabine e aciona o motor original que faz quase tanto barulho quanto uma usina de luz de médio tamanho.
Os jovens, certamente, vão chamar de “massa” esse caminhão troncudo que tem a direção no lado direito e, na cabine, atrás do motorista, oferece lugar para pendurar e guardar pelo menos três rifles possantes. Tudo é ancho e descomunal no caminhão, sobretudo a carroceria, com laterais com mais de metro de altura e uma cobertura também bastante alta, com grossas hastes de ferro como sustentação. Tanto dentro como na parte externa da carroceria, e no teto, dá para pendurar e abrigar um museu completo.
Durante a guerra, o caminhão foi usado para transportar judeus para os campos de extermínio para os fornos crematórios. Por isso, o modelo é comumente utilizado em filmes sobre o nazismo. O desembargador navega pelos canais da Sky (tv paga) procurando nos filmes clássicos mais informações e detalhes sobre a máquina poderosa que quer transformar em museu. Como tudo nela foi projetado há 75 anos, sua circulação está condicionada a pequenas distâncias, como escolas rurais e alguns municípios próximos.
Desta vez, Arquilau não precisou comprar nem ganhar o caminhão para seu acervo. Ele contou com interesse dos atuais donos – a família Parente, de Cruzeiro do Sul - para montar o projeto. A idéia será apresentada ao Governo do Estado, à Prefeitura e, quem sabe, a instituições que entendam a originalidade e importância do museu volante para levar às novas gerações de acreanos, a memória da Revolução que bisavós empreenderam no início do século 20. Se possível, com acompanhamento de historiadores e universidades.
Enquanto isso, o desembargador vai entupindo, cada vez mais, seu depósito de quinquilharias históricas, até mesmo o banheiro social da área de lazer.





Correio


A embaixatriz


A elegante e simpática senhora que aparece na foto entre lideranças indígenas do Acre é a embaixatriz da Palestina no Brasil, Nahida Tamimi Alzeben. Ela acabara de chegar de Brasília, domingo passado (26), e foi levada ao sítio da família Farhat, na BR-364, onde a aguardavam, além dos indígenas, duas dezenas de outros convidados a quem foi servida uma farta mesa de comidas árabes e acreanas, incluindo uma maniçoba, que provou e gostou.
O ativista Abrahim Farhat, o Lhé, foi receber a embaixatriz no aeroporto e a acompanhou o tempo todo em Rio Branco. No sítio, com a naturalidade que lhe é peculiar, deixou-se fotografar ao lado de Nabiha com seu short samba-canção preto, que destaca sua pele cor-de-rosa e entre um “lero” e outro, se enfiava sob uma bica d’água para afastar o calor.
Apesar do nome, Nahida Tamimi Elzeben é brasileira. É filha de pai palestino e mãe gaúcha, descendente de migrantes alemães. É urbanista e restauradora de patrimônio cultural, mora em Brasília e tem dois filhos. A cada dois anos, visita a Palestina.
A embaixatriz veio ao Acre por conta das comemorações dos 62 anos da causa palestina. No dia 29 de novembro de 1947, a ONU votou um projeto para definir territórios e estabelecer a paz entre árabes e judeus. Mas, numa votação suspeita, definiu apenas a criação do Estado de Israel. Hoje, a organização procura se desculpar transformando a data no Dia Internacional da Causa Palestina, comemorado em muitas partes do mundo.
“Há 62 anos esse povo é massacrado para tentar fazer valer seus direitos”, disse o ativista Abrahim Farhat, membro do Comitê Acreano de Solidariedade à Causa Palestina e um dos organizadores do evento no Estado. Ele lembra que a questão é também dos acreanos, pois árabes e judeus lutaram na Revolução Acreana de 1902.
Nabiha deu palestra na Assembléia Legislativa e na Universidade Federal do Acre e na Uninorte, e ensinou bordado palestino numa oficina na Catedral de Rio Branco. Na Assembléia, declarou: “Precisamos de todo o apoio possível para que nos deixem ter o nosso estado palestino, que desocupem nosso território e deixem de destruir nosso patrimônio cultural”. Para ela, a cultura e a tradição palestina “é que nos mantém vivos como povo”.



A embaixatriz Nahida Elzeben entre indígenas acreanos




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