quarta-feira, 23 de maio de 2007

Somos todos parentes

Há poucos dias, participei de uma “sessão pipoca” na residência do paleontólogo Alceu Ranzi. Na platéia havia umas dez pessoas, todas avisadas da projeção de dois vídeos sobre sítios arqueológicos. O primeiro, de sete minutos, foi produzido pela Trilha Ambiental, do José Paulo Tezza. Tem como título Geoglifos e foi encomendado pelo Sebrae, que organizou um encontro sobre o tema em Rio Branco há duas semanas.

O segundo, bem maior (cerca de 40 minutos), é uma produção recente da TBS (Tokyo Broadcasting Sistem) Vision, Inc.: um especial feito pela tv japonesa sobre escavações arqueológicas em Moxos, região do Beni, na Bolívia. Foi exibido no Japão em março, despertando enorme interesse.

Mas haja pipoca até o pessoal se acostumar com o áudio em japonês e sem legenda. Sem falar que a atenuante, em alguns trechos, era um pesquisador alemão falando... alemão.

Felizmente, o professor Alceu tinha traduzido um resumo em inglês e foi generoso nas explicações. Além disso, da segunda para a terceira parte ninguém mais ligava para o idioma, porque as imagens, rodadas na Bolívia, tinham tudo a ver com nossa região do Alto Acre. Aqui, como lá, existem sítios arqueológicos, só que ainda não pesquisados.

O filme japonês apresenta os resultados das escavações de duas equipes de arqueólogos - explica o professor Alceu Ranzi. A equipe do professor Sanematsu recolheu cerca de 15.000 artefatos desde o inicio dos trabalhos. Ela também encontrou um esqueleto de mais de 1,80 metro, cujo DNA indica ter pertencido ao povo de Shandong, na China, terra do filósofo Confúcio.

Sanematsu, que utiliza imagens de radar em seus estudos, acredita que o sítio é uma tumba.
Já a equipe do Instituto Alemão de Arqueologia, encabeçada por Heiko Prümers, trabalha numa área a 50 quilômetros de Trinidad e acredita estar escavando restos de uma civilização. No local encontraram um esqueleto com mais de 2 metros de altura, ao qual foi dado o nome de “O Nobre”.

Enterrado, supostamente, aos 35 de idade, o Nobre hoje esqueleto exibe ornamentos de pedra, um disco de metal ornando a testa, bracelete de ossos, colar de dentes de onça e brincos com estranho padrão. A datação da peça sugere que ele viveu em torno do ano 660. E a análise de DNA indica que pertenceu ao “Haplo-group B”, ou seja, era mongolóide como os japoneses.
Após as filmagens na Bolivia, a equipe passou para o lado brasileiro para ver as estruturas geométricas (ou geoglifos) do Acre. Nas redondezas de Rio Branco foram achados, desde alguns anos, mais de 120 dessas figuras na forma de círculos, quadrados, quadrados ligados por um canal e estruturas de forma octogonal.

Para Alceu Ranzi, um pioneiro nos achados arqueológicos do Acre, as pesquisas feitas na Bolívia podem representar sinais de uma civilização altamente avançada que viveu em harmonia com a natureza.

“A paisagem de Moxos, formada por belas e complexas linhas, pode ser a expressão de uma antiga cosmologia”, diz ele, citando Clark Erikson, da Universidade da Pensilvânia (USA). “E as estruturas com padrões geométricos, encontradas no Acre, talvez sejam uma mensagem gravada no solo para as futuras gerações.”