segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saitica: blog de um revolucionário

Daniel de Andrade (Foto: Stela Petrasi)
Moçambique: Daniel, o cineasta Rui Guerra e Malangatane, escultor e líder (foto: Fernando Silva)
 Entre as coisas boas possíveis de se encontrar na Internet está o blog Saitica, do fotógrafo Daniel de Andrade Simões e de sua companheira Stella Petrasi. Eu tive a felicidade de conhecer o casal em Macapá, capital do Amapá, no começo dos anos 1990, e o privilégio de contar com as fotos do Daniel para fazer capas originais do semanário Folha do Amapá que editei por lá, a partir de maio de 1991. Embora resida em Porto Alegre há décadas, Daniel é baiano. É descendente de uma família de vaqueiros do município de Rio Real, e até firmar-se como mago das imagens em preto e branco, perambulou pelo mundo lutando pela liberdade, dele e dos oprimidos de todas as raças, crenças e ideologias.
Durante os anos de ditadura militar no Brasil (1964/1985) foi militante comunista, sendo preso e torturado. Escapou em meados dos anos 1970, exilando-se no Chile, Itália, França, Alemanha e Dinamarca com o nome de Reginaldo Farias. Estudou fotografia e cinema em Vincennes, depois trabalhou em Moçambique, na África. Ao retornar ao Brasil, após a Anistia política, trabalhou nos jornais Coojornal e Zero Hora, de Porto Alegre, e foi conhecer a Amazônia. Trabalhou na Folha do Amapá, colaborou com o PDSA (Plano de Desenvolvimento Sustentável do Amapá) do então governador João Alberto Capiberibe, seu companheiro de exílio, e visitou o Acre, em 2003, onde produziu o álbum de fotografias Um Novo Mercado Velho, a primeira grande obra da construção civil no Estado, que em seguida foi restaurada virando atração turística em Rio Branco. O álbum foi enterrado numa urna, com outros jornais e revistas locais, para ser aberto somente no ano 2106.
No seu blog (www.saitica.blospot.com) dá para perceberr um espírito inquieto, de revolucionário inconformado com as injustiças do mundo, e viajar através de fotografias quer falam de uma luta que não terminou; uma luta semeada de esperança nos corações e mentes das pessoas, bichos e ambientes que fotografou.

sábado, 28 de agosto de 2010

REGATÃO: herói atípico da Amazônia

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 28ago2010
Em batelões como este os regatões ajudaram a escrever a história da Amazônia


No século XIV ele já batia à porta dos consumidores medievais da Europa oferecendo alimentos a retalho. Comprava no campo mais barato para vender em miúdo e caro na cidade. Era um comerciante ambulante, um mascate. Durante a colonização do Brasil ele apareceu nas emergentes metrópoles brasileiras com a mesma atividade medieval. Era início do século XIX, e a atividade foi dominada por jovens judeus marroquinos que migravam para o país. Na segunda metade desse século, atraídos pela economia da borracha os jovens mascates árabes migraram em massa para a Amazônia, onde passaram a ser chamados de regatões.
Historicamente, o regatão da Amazônia é o pequeno comerciante que entra nos rios e igarapés com sua pequena embarcação carregada de miudezas, oferecendo esses produtos aos moradores dos rincões da região.Troca – mais que vende – produtos industrializados por espécies valiosas da floresta. Durante o primeiro ciclo da borracha (1870 a 1913), enfrentaram dificuldades com os seringalistas por venderem coisas diretamente aos seringueiros fazendo concorrência ao barracão, de onde os extrativistas recebiam o aviamento que deveria ser pago com borracha. Mesmo assim, eles conseguiam furar o bloqueio. Em parte porque a exemplo dos donos de seringais, muitos também tinham relações comerciais com as casas aviadoras francesas e inglesas, ou com os prepostos destas em Belém e Manaus,Sem contar que nenhum barracão jamais conseguiu competir com o fascínio despertado pelos pequenos mascates com seus batelões maravilhosos, cujas prateleiras exibiam pequenas e fascinantes novidades. De fato, além de armas e munições, querosene, sal, açúcar, sabão e charque - essenciais para a subsistência do seringueiro, - o regatão oferecia deslumbramento para sua alma: eram cortes de lamê e tafetá coloridos e macios, os perfumes baratos de cheiro ativo, as brilhantinas, as chitas estampadas e as rendas, as pulseiras e brincos, as linhas e agulhas, os cintos, os sapatos, os batons e pós de rosto, os biscoitos e bombons, os sabonetes, as anáguas...
 Impunha-se através do regatão um gosto e uma tolerância amazônicos por excelência, quebrando a lógica do capital e do lucro.
Após o primeiro ciclo da borracha - e excetuando o curto período histórico da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) - a importância do regatão ou o reconhecimento de sua importância na construção das sociedades da floresta cresceu. Ele passou a ser o único fornecedor das famílias remanescentes dos seringais abandonados pelos seringalistas, e assim foi se tornando compadre, padrinho, sócio ou patrão.
Um aspecto ainda pouco conhecido do personagem regatão - esse típico herói amazônida - é sua contribuição nas lutas de resistência dos caboclos da região. A história registra sua participação em movimentos importantes como a Cabanagem no Pará, dos quilombolas no Maranhão, Pará e Amapá, e dos índios no Amazonas, aos quais ajudou com o transporte ou fornecimento da armas e alimentos. As transformações promovidas na Amazônia pelo Golpe Militar de 1964 também levaram os regatões a ter um lado político: eles, negócios à parte ou não, ficaram do lado da resistência das populações tradicionais.
 A partir dos anos setenta, quando seringueiros, ribeirinhos e índios do Acre se mobilizaram contra a transformação dos seringais em enormes fazendas para criação de boi, o regatão reapareceu com nova roupagem. Tinha trocado o barco e circulava por estradas lamacentas no volante de um caminhão. Como em décadas passadas, mas agora sobre rodas, o regatão fazia sua parte: comprava a produção agrícola ou extrativista, fazia o aviamento das famílias e, novidade, transportava trabalhadores para “empatar” o desmatamento. Também sabemos que, nos dias de hoje, o regatão continua com sua intensa e perigosa atividade negociando com os índios que decidiram planejar e gerir o desenvolvimento sustentável de suas aldeias.
Enfim, os personagens que fizeram e fazem a história da Amazônia ainda não foram descritos com exatidão. Os historiadores e estudiosos da região terão que perscrutar melhor, por exemplo, a alma de um regatão.



CARTAS


Paula seguiu a trilha do pai
Saudades do meu Rio D´Ouro!
Paula Meireles*

Hoje me deparo com uma realidade contraria da que eu tinha quando vivia no D´ouro. Atualmente, estou trabalhando num escritório, ar condicionado, salto alto e maquiagem no rosto. No D´ouro meu ar era a brisa que soprava fresca bagunçando meus cabelos, minha sandália de borracha, me levava ao banco da mentira onde me perdia no tempo a observar o pôr-do-sol e meu rosto era pintado com as tintas de jenipapo e urucum dos kaxinawas.
Não reclamo, estou vivendo uma nova fase de minha vida, estou reaprendendo coisas novas, sou uma camaleoa, me adapto ao ambiente, mas confesso que essa vida não me atrai por muito tempo, como a vida que eu tinha na foz do D´ouro. Ê saudade.
Saudade do meu amigo querido seu Zé Sena a me contar causos, parceiro dos serras do dia de domingo, saudade daquele povo humilde, simples, mas que tem mais sabedoria do que muita gente da cidade, saudades de ver os rios se encontrando na sua fúria, nos seus repiquetes; saudades das viagens pelo rio Tarauacá, das varações para o rio Envira, das noites dormidas nas praias, enfim, saudades...
Sei que minha alma não mais pertence a esse mundo, a essa selva de pedra onde cada um está mais preocupado com sua vida do que com o coletivo, em breve voltarei ao Rio D´ouro para saciar e matar toda minha saudade.

*Paula Meireles é filha do indigenista José Carlos Meireles. Até 2008 ela comandava a Frente de Proteção de índios Isolados nas cabeceiras do rio Tarauacá, no afluente rio D’Ouro, no Vala do Juruá (AC).

Mapinguari


Representação do Megatherium (Preguiça-gigante)

A figura horripilante do Mapinguari está no imaginário dos povos da floresta. Vira e mexe a gente ouve falar de alguém que em algum ponto remoto da Amazônia se deparou com o bicho. Sua fama chegou até o Japão interessando a Television Broadcasting Sistem (TBS)que mandou uma equipe filma-lo nas matas do Acre. É claro que não conseguiu: 10 técnicos transportando 40 volumes com uma tonelada de material de filmagem passaram uma semana (em agosto de 1996) procurando o gigante lendário sem ver nem o rastro do animal. O biólogo norte-americano David Oren, pesquisador do museu paraense Emílio Goeldi em cujos estudos a Tv japonesa se baseou, andou bem perto de dar uma explicação científica dos relatos de seringueiros e índios. Eu o entrevistei em 1996 em Macapá, no Amapá, e ele disse estar convencido de que o Mapinguari é uma preguiça terrestre que viveu há 10 mil anos em várias regiões do planeta e que ainda pode ser encontrada em lugares isolados e impenetráveis da Amazônia. Já o poeta Amâncio Leite, de Cruzeiro do Sul, em 1930 publicou um poema mostrando o estrupício em que se meteu o seringueiro João Tomé por conta do estrambótico animal.A entrevista completa com o biólogo eu publiquei no jornal “Folha do Amapá”,e em 2003 fiz um resumo dela para a revista “Outraspalavras”, editada pela Fundação Cultural Elias Mansour, do Acre. Para a revista eu juntei parte do poema Mapinguari, do ex-seringueiro e poeta acreano Amâncio Leite,que viveu no começo do século passado em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá.

“AS PESSOAS FICAM EMBRIAGADAS”
Os depoimentos colhidos por David Oren, de seringueiros e índios que já viram ou pensam ter visto o Mapinguari são quase idênticos na sua descrição: “Eles o descrevem como um animal que deixa rastros redondos, é cabeludo, fede muito e quem já o viu uma vez não quer ver de novo”, disse Oren acrescentando: “Muitas pessoas falaram para mim que deram de cara com o diabo. Quando ele fica de pé, cambaleando, torna-se assustador. Uma coisa é você andar no mato e de repente a Virgem Maria aparece para você. Outra, é o diabo em carne e osso aparecer. As pessoas ficam completamente perturbadas”.
Segundo o pesquisador, uma explicação lendária para o Mapinguari é que seria um índio, um pajé que descobriu o segredo da imortalidade mas o preço que pagou por isso foi se transformar num animal horrível e fedorento. Cerca de 100 pessoas disseram para Oren ter tido contato ou pelo menos ter ouvido o grito do Mapinguari, e 60 são testemunhas que viram o animal. Algumas afirmam te-lo matado, mas não conseguiram chegar perto porque ficaram embriagadas, desnorteadas e intoxicadas com o fedor.
Um seringalista chegou a oferecer uma recompensa para quem matasse o bicho, e um seringueiro entrevistado por Oren afirma que o matou, mas não conseguiu chegar perto para tirar uma amostra de cabelos e unhas para levar para o dono do seringal.Ele tirou a camisa e a envolveu no pescoço, tapando o nariz, mesmo assim ficou embriagado. A sorte dele é que estava acompanhado de um amigo que havia corrido assim que o bicho apareceu. O amigo serviu de guia para abandonar o local depois.

ONDE PODE SER ENCONTRADO
David Oren afirma ter relatos de quase toda Amazônia com uma coisa em comum sempre: o Mapinguari aparece nos lugares mais longínquos aonde quase ninguém vai. As histórias são a de um seringueiro abrindo novo caminho (varadouro) mata dentro por uma área onde ninguém andou antes. “Em todas as tribos indígenas que eu conheço, os índios têm muito medo desse animal. Mesmo os Caiapós, que são mais brabos, têm um tipo de zoneamento dentro da reserva deles. Onde o animal aparece, eles não vão. É uma reserva para esse bicho que consideram perigoso e não querem encontrar”, disse o biólogo.
Existem evidências da presença do Mapinguari no Acre e no Amapá. Neste estado que faz limites com o Estado do Pará e a Guiana Francesa o animal poderia ser encontrado no alto Jarí. A lenda é recorrente entre os castanheiros do rio Iratapuru, afluente do Jarí, que conhecem um relato semelhante ao dos seringueiros do Acre. Três caçadores da região teriam sido contratados há algumas décadas para matar o estranho bicho que vivia assustando madeireiros e castanheiros. Eles prepararam um mutá (local de espera numa árvore) na mata, onde dormiram três noites. Dois caçadores desistiram e o terceiro viveu a terrível experiência na quarta noite. O animal aproximou-se com seu grito apavorante na escuridão da mata, até aparecer no foco da lanterna do caçador. Este disparou a arma num vulto cinzento, monstruoso e não lembra de mais nada até o dia seguinte, quando acordou do desmaio. Viu sangue e mato quebrado no local e os mesmos rastros redondos. Tomado de pavor, procurou o caminho de volta para nunca mais andar por aquela região.

“NOSSA IGNORÂNCIA É MAIS ABRANGENTE...”
David Oren está convencido de que o Mapinguari é uma preguiça terrestre: “Hoje em dia, explica, a gente só conhece as preguiças que vivem em árvores, que são de médio porte e pesam no máximo 5 quilos. Mas até aproximadamente 10 mil anos atrás tinha 8 espécies de preguiça que somente andavam no chão aqui na Amazônia. Uma dessas espécies era maior que um elefante”.
Segundo o biólogo existem fósseis da preguiça gigante no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Na Universidade do Acre o professor Alceu Rancy juntou mais fósseis e na Universidade de Minas Gerais, o pesquisador Cartelli com mais de 25 anos de experiência possui acervo maior ainda. A preguiça terrestre é da família do tamanduá bandeira, que fica de dois pés para se defender. “Esse animal (a preguiça terrestre) quando fica de dois pés, cria uma relação entre a cabeça, os braços e as pernas que se assemelha a do ser humano”, argumenta Oren.
Mas o problema para a pesquisa, esclarece o biólogo, é que muitas pessoas que tiveram o contato com o bicho imaginam ter visto o diabo e não querem falar. Tem também o fato de grande parte da população não acreditar nos relatos e as pessoas não querem ser ridicularizadas. E mais: de tão terrível, as pessoas não gostam de lembrar a experiência.
David Oren esclarece que a ciência trabalha com o mundo físico e com o que pode ser comprovado cientificamente,entretanto, ele se questiona se esse mundo material que pesquisa é o único mundo que existe: “Tem várias coisas que não podem ser explicadas pela minha ciência”, declarou.
“Nosso conhecimento sobre a Amazônia é uma coisa que fica muito clara para qualquer cientista que anda por aqui. Eu gosto de repetir que nossa ignorância é muito mais abrangente que nosso conhecimento. Estou tentando aumentar um pouco os nossos conhecimentos para a sociedade como um todo refletir sobre a nossa ignorância”, disse Oren.

Mapinguary (versos de Amâncio Leite)

Certo seringueiro, um dia

Chegou correndo da estrada

Na qual, há tempos não ia,

Não trouxe leite que desse

Para melar a bacia!


Chegou cedo, muito cedo;

Antes da hora marcada,

Seu companheiro ainda andava

Lá pela volta da estrada.

Fez assim, só porque dera

Uma carreira danada!


O triste vinha afrontado,

Verde-amarelo e sem fala!

Saltando dentro de casa

Deitou-se em meio da sala.

Seu rifle de doze tiros

Não trazia uma só bala!


Que teria acontecido

Com aquele pobre rapaz!

Teria ele esbarrado

Com o velho satanás?

Talvez, depois saberemos

Quando chegar Zé Thomaz.


Zé Thomaz- o companheiro

Chegou, depois de uma hora.

Quando o viu, gritou de longe:

- “Que foi “seringueiro espora?!”

Teria você “encontrado”

Mapinguari ou caipora?


Encontrei mapinguari:

(Respondeu-lhe João Tomé)

Me “atrepei”numa “pupunha”

“Com as alpargartas no pé...”

“Então me conte “direito”

como esse danado é!”


“Ele é maior que um boi

Daqueles do rio da Prata...

Chega “estremecia” a mata...

Fez-me “atrepá”na “pupunha”

Calçando as alpargatas!


“Mas rapaz...será “possível”

Que não deste “ao menos” um tiro?...”

“Ora, eu não dei...dei só doze!

Mas, de que mais me admiro

É “que ele” fez tanta conta

Que não mudou nem de giro!”


“Mas onde foi que encontraste

Tamanha “fera” de fama?...”

“Foi no “cabeço” da volta

Junto a madeira da “cama”

Cá mais atrás, eu vi, “fresco”

O rasto dele na lama...”


“Esse bicho é cabeludo

E todo cheio de escama?”

“Eu lá pude “reparar”

“Pra esse “filho”de “mulher-dama?”

Que além de ser muito feio

É todo cheio de trama!...


“E o resto dele, como é?

Se parece com o de burro?”

“Parece, mas é maior!

E se tu lhe visse o “esturro!...

Eu penso que aquele ...figa,”

Mata as “onça” só de murro.”


“Qué vê, “vamo”quinta-feira

Que é dia que ninguém corta...

Hoje é segunda e é das “arma”

(Santo pra quem tem mãe morta)

Tu vai só vê o “esfolado”

Na baixa da “ponte-torta”...


Eu tava “cuiendo” o leite

Da madeira do “cabeço”

Quando vi um grito longo

“Como” outro não conheço!

Me deu um tremor nas perna

Que quase a terra eu não desço...


Mas, afinal desci sempre

Me assustando de Cupim!

“Rifle com bala na agulha

Mão no cabo do “ispadim”.

Quando eu cheguei debaixo

Ele gritou mesmo assim

Desta vez foi “redobrado”

Gargalejando no fim!


Eu armei o “pau-furado”

Me encostei na “seringueira”

Quando o monstro “pretejou”

Eu pensei que era um bandeira...

Baixei a bala pra cima...

Mas qual, José. Foi “besteira”!


Enquanto o cão coça o olho

Dei dez tiros no danado...

Mas ele, nem mode coisa!

Nem ficou “arrepiado”

Continuou avançando

No meu rumo, me provando

Que tinha o “corpo-fechado”.


“Aí dei-lhe mais dois tiros.

Pronto! O rifle virou pau...

Meus cabelos espencaram

As pernas virou mingau...

Meti a mão na poltrona,

Nem uma bala, sinha dona,

Danou-se seu “Nicolau”


“Aí, eu vi “que morria...”

- A coisa tava amarela! –

Na “madeira” eu não subia

Pois é de sete tigelas

Chorei de ser seringueiro...

“Cacei”os dois “companheiros”

Já tavam no “pé-da-goela!”


Me pus de trás da “madeira”

Me deitei rés com o chão.

“Me peguei” com São Francisco

De todo o meu coração...

{Mas, o lá do Canindé!)

Nisto, o bicho pois-se em pé”

Olha lá o estirão!...”

Tanto é alto “como” é grosso

O renegado “Mapim”

Eu me pegava com os santos

Não da “fé” ele de mim!

Oh! Que aperto...”que agonia...”

Meu...- aquele- não cabia

Nem um talo de capim...!


Ele “arreganhou” as unhas

E me arranhou a “madeira”!

Nisto, eu me ergui e corri

“Pro pé da Tucumanzera;

Nesta, - “calcule você” –

Subi mais depressa que

Largatixa em cajazeira!


Ele só fez “espiar”!

Mas nem ligou-me “importância...”

Se não fosse o São Francisco,

-Adeus “história” adeus dança! –

Quem diabo a coisa contava?...

“Porque nesta hora eu tava”

No “porão”daquela pança!...


(versos do poeta-seringueiro acreano Amâncio Leite, extraídos de “Os cantares Seringueiros”, edição de 1930).

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Varadouro 21: próximo do fim, mas...


Capa da Edição 21 do Varadouro

A três edições do fim, o jornal Varadouro ainda falava em recomeço, como se vê no pequeno editorial disfarçado em “Neste Número” que abre a segunda página da edição 21, de maio de 1981:
“Com o retorno em abril, depois de uma paralisação forçada de mais de seis meses, Varadouro – um Jornal das Selvas sofreu um processo de um deputado do PDS, deixou o governador irritado com a imprensa independente e foi perseguido no interior do Estado. Um agente federal de repente interessou-se pelo jornal e andou pela nossa redação bisbilhotando. Isso prova que Varadouro não perdeu sua vitalidade e retorna em tempo de retomar sua caminhada em defesa das classes oprimidas da sociedade. O fato de estarmos circulando com um novo número em maio mostra que estamos em condição de manter sua periodicidade. Para isso contamos com mais colaboradores e com clientes que sabem valorizar a sua publicidade. Mas, no fundo, estes também estão compreendendo os objetivos do jornal. Neste número damos destaque para a matéria sobre a fome na periferia de Rio Branco e para a crise da Universidade Federal do Acre. O reitor Aulio Gélio é velho conhecido nosso, pois de vez em quando mostra suas garras de reizinho absoluto. Só que agora seu reinado parece desmoronar. Também procuramos abrir novos espaços para os leitores. Nesta edição é a vez do homossexualismo. Vamos ver no que dá”.
O deputado do PDS que processou o jornal foi Altemir Passos, também radialista de prestígio na época. O governador era Joaquim Macedo, que ao ser nomeado em 1979 (não tinha eleições durante a ditadura militar), até contara com a simpatia do Varadouro, porque, orientado por seu padrinho político Geraldo Mesquita, se comprometera a apoiar a luta dos seringueiros e índios, e de travar o processo de pecuarização do Acre. O problema é que as pautas e a linguagem independente do jornal incomodavam, mesmo aos simpatizantes.
Quando parte da equipe do Varadouro assumiu o controle de A Gazeta do Acre, em 1981, o cabo de guerra com o governador se rompeu de vez: o diário sobreviveu a pão e água, enquanto o governador era recomendado por seu médico cardiologista a não ler a coluna Gazetinhas. Da equipe de governo, apenas seu cunhado e chefe do Gabinete Civil, Elias Mansour, mantinha-se cordial com os jornalistas do jornal que era uma extensão do Varadouro.
O sociólogo e professor universitário Pedro Vicente Costa Sobrinho produziu a tese de doutorado “Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental”, publicada em 2001 pela editora da Universidade Federal da Paraíba, na qual faz um alentado estudo do Varadouro. Na página 194 do livro o professor diz:
“Varadouro 21, ano IV, maio de 1981, publicou matéria com o título: “Greve na Universidade abala o autoritarismo”. O jornal fez uma excelente retrospectiva da trajetória do movimento estudantil universitário no Acre, desde 1977. O marco inicial foi a eleição da chapa Seringueira para o DCE; e, daí por diante, fatos importantes foram sendo enumerados até o momento da deflagração da greve. O movimento grevista listou uma pauta de reivindicações, mas o principal motivo foi a demissão sumária do professor Rômulo Garcia, presidente da associação de docentes. Um outro professor havia sido demitido por motivos ainda pouco claros. O movimento se alastrou por todos os cursos e ganhou as ruas com o objetivo de conquistar o apoio da sociedade. Varadouro anunciou o surgimento de uma nova força, e comentou: “Os estudantes entraram definitivamente na cena política do Acre. Entraram ‘por baixo’, isto é, colados ao movimento popular. A UFAC é sustentáculo e alimento da política, do empreguismo e do oportunismo da classe dominante. O movimento dos estudantes traz à luz do dia as forças comprometidas com esse esquema (...), e balança as estruturas desse poder no Acre”.
O jornal denuncia, também, de que lado estava o Governo do Estado, pois este mandara prender 21 seringueiros que haviam feito um empate contra o grupo Bordon, no seringal Nazaré.
Aqui você pode baixar a edição 21 em PDF: Varadouro, No. 21
(Fonte: www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A turma do Varadouro

Atrás: Toinho Alves, Alberto Furtado, Abrahin Farhat, Arquilau de Castro Melo e Luis. Na frente: Suede Chaves, Elson Martins e Sílvio Martinelo. (Foto de Edson Caetano)

Eles fizeram o que se poderia chamar de uma revolução. Na linguagem, no comportamento político, nos relacionamentos sociais, em tudo eles buscaram o avesso do que estava estabelecido. Na chegada do “progresso” defenderam os índios. No auge da pecuária gritaram em favor da floresta. No crescimento da urbanização falaram de seringueiros. No frenesi do capitalismo deram valor aos pobres. Em meio aos letrados assumiram a fala dos analfabetos. Fizeram, assim, um dos mais expressivos jornais da chamada imprensa alternativa do Brasil, o histórico Varadouro. Vinte anos depois, “o Acre” os reúne para lembrar e analisar o que passou. E para, à luz do passado, fazer o que sempre souberam fazer melhor: projetar o futuro.


Veja a entrevista coletiva no site da Biblioteca da Floresta: Link para entrevista

sábado, 14 de agosto de 2010

Océlio Medeiros

Coluna publicada no Jornal Página 20 | 15ago2010
Océlio com Yasmin

Antes de falecer em Brasília, em março de 2008, aos 91 anos, o advogado, professor universitário, poeta e escritor acreano Océlio Medeiros, filho de Xapuri e contemporâneo de Armando Nogueira, Jarbas Passarinho e Adib Jatene – esteve empenhado em publicar a série “Almanaque Acreano”, que produziu com recursos próprios e a ajuda valiosa da filha Elizabeth. A série “José Plácido de Castro: da Campanha Gaucha no Sul à Fronteira da Borracha no Noroeste”, em cinco volumes, permaneceu inédita, mas digitalizada e ilustrada: O autor sonhava em ver seus “almanaques” circulando pelas escolas públicas do Acre, ensinando Revolução Acreana à meninada. Mas, ele mesmo percebera depois, a linguagem utilizada era um tanto imprópria para crianças e adolescentes. São exemplos a ilustração desta página e o texto a seguir, em que ele traça um perfil nada honroso do advogado José Alves Maia, que acompanhava Plácido de Castro (juntamente com o promotor Campello e Genesco de Castro) quando o comandante militar foi emboscado e morto, em 1908, nas margens do igarapé Distração a caminho do seringal Capatará.

Naqueles Tempos
Desenho do Almanaque de Océlio

Océlio Medeiros

O cearense José Alves Maia apareceu no Acre, como advogado provisionado, para fazer fortuna, à semelhança dos demais jovens causídicos e ambiciosos. Era da máxima confiança do coronel Plácido de Castro, no mais popular escritório de advocacia da Vilade Rio Branco, onde se consorciara com o jovem promotor Barros Campello.
Quando governador do Acre Meridional e, posteriormente, prefeito interino da Vila de Rio Branco, o coronel Plácido de Castro sempre recorria à consultoria jurídica do dr.Zé Maia. Posteriormente, o nomeou para a chefia do contencioso departamental, quando em 24 de julho de 1906 assumiu o governo interino da Prefeitura do Alto Acre.
Várias falcatruas foram descobertas, violências e abusos de poder foram comprovados. Inquéritos foram instaurados para apurar estelionatos, concussões e outros crimes praticados nas administrações do dr. Acauã Ribeiro, do capitão Pratagy e do alferes Pinto Ribeiro.
O dr. Zé Maia foi o braço direito de Plácido de Castro nas investigações e acusações contra os corruptos, militares e civis, que só iam ao Acre para enriquecer rapidamente com o dinheiro público (...). Mas ele era um farrista boêmio da bela época. Andava sempre cercado de pintalegretes, jovens raparigueiros, dentre os quais o sargento Liberalino, seu principal companheiro de noitadas. Os maledicentes o difamavam, tornando puro e notório os seus desregramentos, a tal ponto que outro companheiro de bebedeiras, o poeta Juvenal Antunes, propalava que ele ressuscitara Sodoma e Gomorra (...). Juvenal, promotor de justiça, chamava a administração prefeitorial de “rapinocracia territorial acreana”.
Na verdade, o doutor Zé Maia só saiu do Acre, com muito dinheiro, para operar a vesícula no Rio de Janeiro, com o famoso cirurgião Pedro Ernesto, que só atendia após 30 dias. Os meses se passaram e seus companheiros de farra, pensando que morrera na operação, liquidaram os seus bens
e comeram aves domésticas que ele criava em Xapuri. Houve uma semana de farras, comilanças e bebedeiras, em memória, até que um dia ele reapareceu como um fantasma.
Após a morte de Plácido, o doutor Zé Maia transferiu domicílio definitivo para Belém, onde recepcionava o interventor Joaquim Cardoso Magalhães Barata e os seus mais influentes correligionários na Cidade Velha, Rua Alenquer, 54, com banquetes suntuosos.

CARTAS

Estátuas de fibra de vidro
Tocaia I

“Caro Elson: Como sempre, aos domingos, leio seu Almanacre e seus belos textos. Falando da Tocaia (publicada domingo,8), corrijo um pequeno equívoco: a implantação das estátuas que retratam a emboscada sofrida pelo Plácido de Castro foi de iniciativa do governador Binho Marques, inclusive porque em 2008 já era ele quem governava o Acre. Jorge Viana revitalizou o local, esquecido e abandonado pelos governos anteriores. No 6 de agosto de 2008 também houve a criação do Parque Plácido de Castro na área de 10 hectares que compreende o igarapé Distração, a área da lápide e agora as estátuas. Em breve o local ganhará um circuito de arvorismo acrobático, para incrementar o turismo de aventura, com recursos de uma emenda do senador Tião Viana repassados pelo Ministério do Turismo. Será explorado através de jovens moradores da APA do Amapá, reunidos em cooperativa”. 
Cassiano Marques de Oliveira - Secretário de Estado de Esporte, Turismo e Lazer

Resposta - Agradeço pela correção, que recebo mais como uma complementação da notícia contida na coluna passada. Mas veja lá, secretário, que tipo de atividade o senhor vai desenvolver em volta do túmulo do nosso herói!

Tocaia II

“Caro Elson: Estive no Acre todo o mês de julho, muito ocupado com as atividades do Projeto geoglifos. Entre várias atividades promovemos o Simpósio Internacional sobre os geoglifos. Creio que com o envolvimento de renomados cientistas, os geoglifos ainda nos darão muitas e boas informações sobre o passado remoto do Acre. Logo da chegada em Florianópolis a Cleusa me perguntou se eu o havia encontrado. Agora o reencontro nessa belíssima “Tocaia”. Fico feliz em saber que estás “firme e forte”.
Um abraço, Alceu Ranzi.

Resposta - Obrigado, Alceu. Estive de férias em julho.

Chá de Sumiço

“Essa turma do Aquiri vez em quando se dana a mandar e-mails. Depois, passa tempão no chá de sumiço. Cadê ocês. Faz um ano que o Birolim -que vem a ser o pai da Fernanda aí- brigou com a gente e não manda mais nada... O Itamar Zanin só vez ou outra. E um tal de Elson também parou...Então tá...é o pessoal cá do Sul Maravilha que é viciado nessa parafernália de computador, celular, lap-top , etc. A escola do meu filho me botou pra falar um dia inteiro sobre os índios do Acre, depois que ele me dedou dizendo que eu morei quatro anos com os índios. Veja só...Até explicar que não é nada disso...(ha!ha!ha!). Vou ensinar a criançada a jogar aquele joguinho que você botou num Almanacre: o Jogo da Onça ou Adugo. Estou treinando, mas ainda não sei direito como andar com as pedras...
Tudo bem aí? E os bacuri? Antônio Marmo - São Paulo.

Respsta – Olá, Marmo! A época dos bacuris é em janeiro, fevereiro .O teu amigo Silvio Birolo, professor de filosofia e agricultor é o meu fornecedor. Fiz contato e ele prometeu te abastecer na próxima safra. Bacuri é o fruto mais saboroso do planeta Terra, mas os técnicos e autoridades da agricultura amazônica, parece, anda não descobriram isso.

Crônicas da Leila

“Leiam no site do Lima Coelho (www.limacoelho.jor.br) o CABOCLA JUREMA e A JAQUEIRA SOMBRI, de minha autoria. O livro de contos entrará na fase de revisão. Se tiverem um tempinho
deixem um comentário. A velhinha agradece. Outro conto que também gostei é ELVIS MORREU”. - Saudações baianas.
AXÉ! Leila Jalul - Porto Seguro.


Tocaia


Coluna publicada no Jornal Página 20 | 8ago2010


Madruguei sexta-feira, 6 de Agosto, junto ao túmulo do Coronel Plácido de Castro, num dos ramais da estrada da praia do Amapá, no segundo distrito Lá, após a travessia do igarapé “Distração”, no antigo seringal Flor de Ouro, caiu assassinado, numa emboscada armada em 1908,  o militar gaúcho do exército brasileiro que se tornou o “Pai do Acre”. Foi, certamente, a primeira morte anunciada na região, com ingredientes políticos semelhantes aos que vitimaram, oitenta anos depois, Wilson Pinheiro e Chico Mendes.
A cena do crime, que era de mata fechada e lúgubre, foi modificada em 2008 pelo ex-governador Jorge Viana: desde então, uma bonita ponte de madeira sobre o igarapé dá acesso a um espaço aberto e bucólico, onde se destacam o túmulo do herói ; e estátuas de fibra de vidro da vítima e de quatro acompanhantes, bem como dos assassinos entocados. Cavalos e cachorros também estão representados nas esculturas.
Após vencer o exército boliviano, em 1903, permitindo a anexação do Acre como estado brasileiro, Plácido de Castro foi perseguido pelo governo federal e por seus delegados enviados à região para administrar o território conquistado. Decepcionado, ele afastou-se da política e passou a cuidar do seu seringal Capatará e de outros negócios. Mas sua presença histórica continuou incomodando.
Em agosto de 1908, circulavam na vila Rio Branco, boatos de que o então prefeito Gabino Bezouro encarregara o subdelegado Alexandrino José da Silva (ex-membro do exército revolucionário de Plácido) de eliminá-lo. E a hora chegara: na boca da tarde do dia 8, Plácido se dirigiu para sua propriedade na companhia do irmão Genesco (engenheiro e dentista), dos advogados Zé Maia e Campelo, e de seu auxiliar Chico Acreano, que seguiu a pé, na frente, para certificar-se de que a passagem pelo varadouro estaria livre.
Não foi por falta de aviso! A revolucionária Angelina, que durante a guerra enfrentou o exército boliviano para vingar-se do marido, o advertiu:
- Pelo amor de Deus, Cel. Plácido, volte para a vila. Os varadouros para o seringal Flor de Ouro e o seringal Benfica estão empestados de capangas!
A comitiva dormiu numa barraca abandonada na boca do Riozinho do Rola e ao amanhecer do dia 9, seguiu caminho. Chico Acreano, que saiu na frente, estava bem adiantado quando foi interceptado por capangas. Assustado, achou melhor alcançar o seringal Benfica, pensando em pedir socorro ao proprietário, Joca Rola. Mas este, que parecia saber da emboscada, teve medo de agir no sentido de impedi-la. Parte da mata da mata do seringal Flor de Ouro pegava fogo, certamente, como parte do sinistro.
Ali próximo, ficava o barracão de Alexandrino. Genesco atravessou a ponte do igarapé “Distração” na frente, e Plácido foi logo atrás.  Deu-se então o tiroteio: o primeiro tiro, a queima-roupa atingiu-lhe o braço esquerdo; o segundo, de rifle Winchester 44, papo amarelo, fez estrago maior. Seguiu-se então intensa fuzilaria, abafada pelos estalos do tabocal em fogo. Os acompanhantes Campelo e Zé Maia se perderam em pânico no matagal, enquanto Genesco acudia o irmão caído.
Levado, numa rede, mortalmente ferido até o Benfica, Plácido foi cercado por dezenas de seringueiros, a quem disse:
-Meus amigos, a morte é um fenômeno tão natural como a vida e quem tem sabido viver, melhor saberá morrer! Eu só lamento é que havendo tanta ocasião gloriosa para morrer, esses heróis me matem pelas costas. Mas... Em Canudos, fizeram pior.
(Informações recolhidas do “Almanaque Acreano”, obra inédita produzida por Océlio Medeiros e sua filha Elizabeth Skvarnavicius).






Patrimônio histórico


Foram comigo ao local onde Plácido de Castro caiu morto, em 1908, o historiador Marcus Vinicius das Neves, o pequeno empresário da construção civil, Quintela, e a líder comunitária Terezinha, brava defensora do Lago do Amapá. E logo chegaram os donos da festa: o governador Binho Marques, os candidatos ao Senado Jorge Viana e Edvaldo Magalhães, e o candidato a governador Tião Viana, todos do PT.
Cerca de 40 pessoas, entre convidados, jornalistas e políticos permaneceram de pé cerca de 40 minutos, uns falando, outros ouvindo sobre a revolucionária história acreana. Seu Quintela, um pioneiro das lutas socioambientais, disse ter conhecido alguns membros do exército de Plácido de Castro. E se mostrou generoso com os vencidos, reconhecendo mérito em personalidades demonizadas por historiadores. Ele desconfia, por exemplo, que não foi Alexandrino quem matou o comandante da Revolução Acreana, porque, pelo que tem ouvido falar, “ele não era homem de matar ninguém pelas costas”.
Tião Viana, acatando sugestão do irmão, Jorge, disse que se for eleito vai construir uma linda biblioteca e outras instalações que atendam melhor aos visitantes interessados em conhecer toda essa história. Afinal, ele é autor do projeto que conduziu a figura de Plácido de Castro ao Panteão da Pátria, onde figuram os heróis nacionais, em Brasília;  e tem se empenhado em publicar pela editora do Senado, importantes obras  sobre o tema.
Na contramão do seu Quintela, Tião manifestou, entretanto, que se pudesse entrar numa maquina do tempo e saltar no começo do século XX, cuidaria de promover justa punição ao suspeito Alexandrino.
Jorge Viana, Edvaldo Magalhães e Binho Marques falaram no mesmo tom para enfatizar a importância da história acreana no projeto político da Frente Popular do Acre. Todos aprovam a idéia de ampliar a discussão sobre a Revolução Acreana, trazendo para o primeiro plano, heróis ainda não reconhecidos, mas que são citados nos relatos simples de quem se orgulha de suas raízes.
Bom, a solenidade, embora incluída na agenda dos candidatos, não pareceu eleitoral, mas incomum e necessária.