A eleição para governador do Acre de 2014 é a terceira em que
sou levado a votar com sobrosso, pensando no risco de entregar nossa terra a um
grupo de pessoas estranhas à sua história, cultura e tradições. Portanto, pessoas sem identidade com os nossos
sentimentos e modos de vida, que tentam nos impingir a barbárie que trouxeram
de outras regiões. Em 2002, 2006 e 2010, escrevi meus temores de que, entre
“Nós”, acreanos nascidos ou de coração, e “Eles”, representados por agressores
que nos anos 1970/1980 agiam como se fossem “os novos donos do Acre”,
tivéssemos que abrir mão de nossas conquistas como povos da floresta para cair
na ambição capitalista que os movem.
O quadro que vejo na politica atual é difuso, uma mistura de
siglas e discursos que dificulta a opção pelo voto consciente, sobretudo, entre
os eleitores mais jovens, que não possuem a memória do que aconteceu por aqui
há três décadas. Sei que o que aconteceu é recente, à luz da história, mas a
novidade da informação eletrônica, a ascensão do capitalismo no mundo e os
erros políticos de quem não consegue valorizar o protagonismo de quem faz a
nossa resistência, acabam abrindo uma fresta perigosa aos inimigos da
acreanidade.
Um observador atento poderá enxergar, mesmo no amontoado de
asneiras que é lançado diariamente nas
redes sociais, pela internet, a força politica que permanece viva entre as
nossas raízes. Uma simples fotografia da Gameleira num fim de tarde desperta,
como se viu esta semana na Fanpage do senador Jorge Viana, uma unanimidade
amorosa, um sentimento verdadeiro de quem se enleva com uma natureza
exuberante, de cujo mistério, certamente, vamos poder construir o mundo novo e
bom que tanto queremos para todos. O mesmo sentimento estava presente, há duas
ou três semanas, nos espaços da universidade Federal do Acre, apinhados de
jovens curiosos e esperançosos, durante a 66a Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Nos amplos e promissores espaços fervilhavam gerações num
diálogo entre saberes, entre tradição e modernidade...
![]() |
Seringueiros preparados para um "empate" na Fazenda Bordon, em 1987. (foto: Elson Martins) |
Era como se a universidade estivesse acordando de um sono
profundo, abrindo os olhos para enxergar o conhecimento dos extrativistas e dos
indígenas, dos povos da floresta, o amor e a irreverencia dos jovens, a mente
aberta dos cientistas apontando para o admirável mundo novo de uma comunidade
fraterna possível. Esse mundo está tão
perto: está na periferia de nossa morna cidade, nas beiras de rios que
desbarrancam preguiçosamente; nas periferias pobres, mas solidárias de nossas
cidades e vilas; no conhecimento ancestral que decifra venenos e curas; nos
gestos suaves e sábios de quem há séculos dorme com a natureza e sonha, sem
maldade, para acordar com o rosto limpo e belo da simplicidade.
Ah! Doutores! Políticos!
Gestores da vida pública! Ah! Candidatos que exploram as dores do povo! Não se
deixem enganar pelas aparências. Aquele senhor que vende pipoca e bombons numa
birosca na esquina sabe mais que vocês, sobre como entrar e sair da floresta
densa e não se perder nela; conhece remédios e fibras; sabe os nomes de quem
vive muito longe; não se ofende com a solidão; tem tantas ideias simples de
como viver em paz.. Sem ambição! A natureza está em nós, acreanos, e atrai, às
vezes, com o hálito quente da jibóia que precisa se alimentar. Mas isso não é
dominação. Não é arrogância. Não é desejo mesquinho de se apropriar de corações
e mentes.
A história do Acre é uma história de bravos que orgulha aos
filhos e os empurra para a resistência contra os invasores que ofendem. Essa é
a politica que está em jogo nas eleições de 2014. Durante cem anos vivemos como
povos invisíveis, alimentados por duas espécies da floresta – a seringueira e a
castanheira. Hoje, sabemos que podemos viver outros tempos mais longos, com
novas espécies, descobertas ou a serem descobertas, porque a riqueza do estado
é a floresta e os que a reconhecem como tal.
Não precisamos de agouros de quem quer colocar outra forma de vida no
seu lugar.
Se isso é um recado? Acho que sim! E o deixo, a quem
interessar possa, porque não quero ver o Acre parecido com São Paulo, ou com o
Paraná, ou com o Mato Grosso. Quero ver o Acre prosperar e se tornar um lugar
bom para se viver, mas com a cara do Acre. Com a riqueza da sua floresta explorada
com parcimônia, sem destruição e partilhada por todos.
Quem duvida que isso seja possível, procure acompanhar o
encontro internacional do GCF que vai acontecer em Rio Branco no período de 11
a 14 deste mês. Especialistas de 7 países (Estados Unidos, Brasil, Indonésia,
México, Nigéria, Peru e Espanha) vão apresentar estratégias e propor
negociações que garantam pagamento a quem não desmata e, portanto, não lança
dióxido de carbono na atmosfera gerando o efeito estufa. Quem age assim, presta
um serviço ambiental: preserva a Natureza, salva o Planeta e, claro, precisa ser bem pago.
Nenhum comentário:
Postar um comentário