![]() |
Exposição na Biblioteca da Floresta |
Está aberta ao público na Biblioteca da Floresta,em Rio Branco, desde o final de dezembro, uma exposição sobre o Zoneamento Ecológico Econômico do Acre que representa instrumento de identificação territorial fundamental para o planejamento do desenvolvimento sustentável da região. Melhor que isso, o ZEE permite a qualquer cidadão conhecer a riqueza natural do seu Estado, o que pode (ou não) ser explorada, a aptidão de cada área, etc., e ainda informa sobre a história, ocupação, cultura e tradição de comunidades tradicionais da floresta.
A exposição precisa ser vista por estudantes, pesquisadores, estudiosos da Amazônia, pelas pessoas de um modo geral que vão ficar conhecendo melhor o Acre. Certamente, vão todos se orgulhar da terra onde vivem, e acreditar num futuro melhor a partir de suas potencialidades. Vão também encontrar argumentos para defender a preservação de nichos ecológicos que, com a ajuda da ciência, responderão pela prosperidade da população acreana mais em frente. Poucos estados, no Brasil, possuem um ZEE tão detalhado. No caso do Acre, foram quase uma década de estudo, pesquisa de campo e discussão
com entidades representativas da população para fechar o projeto. A primeira fase começou em 1999, no primeiro mandato do então governador Jorge Viana (PT). A segunda alcançou o governo Binho Marques (1906- 1910) que submeteu o projeto à Assembleia Legislativa e o oficializou por decreto. Agora, o
ZEE está pronto para ser usado. Quem acompanhou o processo e pode agora supervisionar seu uso com acerto e autoridade é o biólogo Edegard de Deus, recém-nomeado secretário de estado do Meio Ambiente. Paulista de Ribeirão Preto, ele veio para cá em 1978 compondo uma leva de jovens professores contratados pela Universidade Federal do Acre. De lá pra cá, esteve sempre ligado ao meio ambiente: ajudou a criar o Parque Zoobotânico da UFAC,
fez parte da ONG SOS Amazônia e se envolveu com a luta dos povos da floresta que salvou o Acre da bovinização. Ou seja: se acreanizou.
A partir de 1999, data de nascimento do ZEE, tem atuado como secretário do Meio Ambiente enfrentando duras pelejas. Em 2009 e 2010 chegou a responder na Justiça pela má conduta de um auxiliar que andou facilitando autorização para desmatamento ilegal. Passou por um sufoco, mas acabou inocentado. Por
conta desses atropelos, entretanto, passou quatro anos numa espécie de exílio politico, como coordenador geral da Biblioteca da Floresta, um departamento da Fundação Cultural Elias Mansour com quase nenhuma autonomia financeira. Mesmo nessas condições, mas com a ajuda de um pequeno grupo de pessoas comprometidas com a sustentabilidade ambiental, politica, social, econômica e cultural do
Acre, chamou atenção para a Biblioteca. De fato, em menos de três anos, organizou excepcional acervo sobre a história, a cultura e a tradição acreanas, e principalmente sobre as lutas socioambientais iniciadas pelos seringueiros nos anos 1970, transformando a Biblioteca da Floresta em porto seguro para quem se interessa por essas histórias.
De fato, ao inaugurar a exposição do ZEE em dezembro de 2010, a instituição fez uma festa: lançou livros e revistas feitas em parceria com outras entidades, dois DVDs com cerca de 30 mil arquivos (em vídeo, áudio e fotografia, além de artigos, reportagens e teses acadêmicas), e lacrou uma urna com parte desse material e três mil mensagens escritas por frequentadores. A urna foi inspirada numa mensagem de Chico Mendes endereçada aos jovens de 2120, ano em que será aberta.
O ZEE, insisto, será daqui para frente preciosa fonte de consulta sobre a realidade acreana. População, florestas, rios, lagos, produção, tradição cultural, distancias, tribos indígenas, flora, fauna, crenças, clima etc. – tá tudo lá dentro, como conhecimento cientificamente produzido e legitimado com a participação das
comunidades.
Quiçá seja utilizado como livro de cabeceira por todos que vivem no Acre, ou que planejam fazer algo no Acre.
CORREIO
Ex-marido de Dilma Rousseff
![]() |
Carlos Araújo (Foto: Daniel de Andrade) |
Carlos Araújo surgiu na primeira safra da resistência à ditadura militar de 1964. Foi preso em agosto de 1970 como militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organização de esquerda que propunha a luta armada. Conheceu Dilma Rousseff durante os deslocamentos para responder por crime político. Foi preso e interrogado pelo Romeu Tuma, ex-diretor do DOPS que, cinicamente, após a ditadura se dizia democrata.
Antes da VPR, militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nasceu em São Francisco de Paula no Rio Grande do Sul. Aos 14 anos foi detido pela primeira vez, pichando muro em Porto Alegre em defesa de “O Petróleo é Nosso”. Seu pai, Afrânio Araújo, foi um renomado advogado. Faleceu em 1974. Carlos namorava a atriz Bete Mendes, outra militante de esquerda que atuava nas novelas da TV Globo; depois viveu um tempo com a também militante Vânia Abrantes, até conhecer Dilma no presídio Tiradentes, em São Paulo. Os dois se apaixonaram na prisão.
Após dois anos de detenção, Dilma foi solta e passou a visitar Carlos Araújo. Levava livros, cigarros e mantinha com ele relacionamento íntimo, de casal. Assim mantinham-se informados sobre a realidade brasileira e o futuro político. Após a prisão, casaram e viveram 30 anos juntos, até 1999. Têm uma filha fruto dessa união, a linda mulher que desfilou com a mãe no dia da posse como Presidente da República, e que lhes ofereceu um neto.
O casal alinhou-se politicamente com Brizola, Dirceu Collares, Aldo Pinto e Valneri Antunes (o Átila), entre outros, como filiados ao PTB. Após perderem a sigla do PTB para Ivete Vargas, recriaram o PDT. Nesse período, organizaram movimentos sindicais, camponeses e operár ios, o que rendeu a Carlos apoio e votos para as eleições do PDT.
Foi eleito por três mandatos a Deputado Estadual: em 1982, 1986 e 1990. Por duas vezes, perdeu a eleição para os petistas Olívio Dutra e Tarso Genro a prefeito de Porto Alegre. Em 1985, Carlos e Dilma se dedicaram de corpo e alma à eleição de Alceu Collares e pela primeira vez Dilma foi nomeada, com
a indicação do marido, para a Secretaria Municipal da Fazenda do Município de Porto Alegre.
Carlos desligou-se da militância política do PDT em 2000 e voltou a advogar. Desde então, adotou vida discreta e sossegada. É um homem culto e inteligente, grande orador, corajoso, correto na ação e na palavra. É profundo conhecedor do marxismo e da dialética, solidário e humano. Político como ele está em extinção no Brasil. Dilma Rousseff aprendeu com ele, e vice-versa.
(Texto produzido com informações passadas por Daniel de Andrade, autor do blog saitica.blogspot.com que vive em Porto Alegre)
Nenhum comentário:
Postar um comentário