Há 48 anos, esta empresa acreana por excelência tece sua
sustentabilidade no mercado regional de alimentos. Seus produtos aparecem cada
vez mais nos supermercados e mercearias de Rio Branco, com qualidade e estilo.
Os mais recentes são os biscoitos, o óleo e as amêndoas (desidratadas, inteiras
ou fatiadas, com e sem sal) de Castanha do Brasil. E as embalagens, escolhidas
no capricho, seguem a linha da florestania. Em 2015 vão aparecer mais
novidades: além da farinha de castanha, pronta para temperar pratos, bolos e
mingaus, serão lançados a farinha flocada de mandioca, os diversos tipos de
feijão de Cruzeiro do Sul e óleos da floresta (como o Murmurú) explorados no
Vale do Juruá. A farinha flocada vem sendo produzida em Tarauacá e começa a ser
vendida em Rio Branco.
O grupo familiar Miragina mantém três empresas: a Fábrica de
Biscoitos, a Panificadora Rosamélia e a Olam – Óleos da Amazônia. O carro chefe
é a Fábrica de Biscoitos dirigida por José Luiz Felício, 54, formado em
Administração de Empresas e em Ciências Contábeis. Do seu escritório localizado
no bairro do Aviário, região central da cidade, ele comanda a distribuição de
17 produtos abastecendo todo o Acre e parte de Rondônia. Também está de olho no
mercado nacional. A produção de biscoitos (ou bolacha) é de 180 toneladas ao
mês. A Panificadora Rosa Amélia, que fica em frente à fábrica, no Aviário, é
administrada pelo irmão mais velho, Abraão Assis Felicio. A irmã Sara,
recém-falecida, também fazia parte da sociedade.
A Olam (Óleos da Amazônia) é a parte mais envolvida com a
pesquisa de produtos da floresta. Há mais de uma década o grupo investe na
produção do óleo (azeite) da Castanha do Brasil e acompanha com interesse a
trajetória vertiginosa do açaí. Cauteloso, Zé Luiz evita dar detalhes sobre o
que anda pesquisando no Vale do Juruá. Admite apenas que o óleo de Murmuru, que
já mereceu uma fábrica de sabonetes em Cruzeiro do Sul, está na pauta. O açaí,
certamente, pode aparecer na versão em pó.
Essa história bem sucedida começa em 1892, quando o jovem
casal libanês Felício e Sara Abraão, seus avós, decidiu pegar um navio para
viver a aventura da borracha na Amazônia. Desde então, nome e sobrenome se
repetem e se espalham pelo Pará, Amazonas e Acre. A gênese da Miragina foi o
transporte de trigo importado dos Estados Unidos para abastecer o Acre e a
Bolívia. Coube aos avós libaneses montar uma frota de lanchas modernas para
manter o negócio.
Em 1912, já começavam a se fixar em Xapuri e Brasileia. E de
lá para cá, filhos e netos se encarregaram de manter a tradição empreendedora
da família, centralizada na capital.
A empresa dos Felício Abraão tem traços culturais que a
distingue. Zé Luiz explica: “Nós temos uma forte preocupação social, mantemos a
tradição de contribuir com entidades filantrópicas como Educandário Santa
Margarida; fazemos doações às famílias atingidas pelas enchentes; também
atendemos pedidos de desportistas e equipes estudantis que se deslocam para
participar de seminários ou outro evento; e temos sempre pão e biscoito para
quem tem fome”. Sua mãe, Miriam, ensinava que “é importante dar ajuda sem dizer
a quem”, e isso vem sendo cumprido à risca.
Segurança e tradição
Fátima, 44 anos de bom desempenho na Miragina (Foto: Elson Martins)
Maria de Fátima Marcelino Brasil, 59, nasceu no seringal
Liberdade, no Rio Liberdade, em Cruzeiro do Sul, na parte mais ocidental do
Acre. É filha de seringueiros. Ela trabalha há 44 anos na Miragina, ainda era
menor de idade quando começou na empresa, em 1972, “fazendo de tudo no
escritório”. Hoje é encarregada de Recursos Humanos. Outros quarenta dos 137
funcionários estão há décadas por lá e não querem sair.
Aposentada há 12 anos, “dona Fátima”, como todos a tratam,
permanece na ativa e não muda sua rotina. Se tornou membro da família, dá
palpites, foi confidente e companheira de viagem de dona Sara em visitas a São
Paulo e Rio de Janeiro. É pessoa de extrema confiança da casa. Uma espécie de
“governanta”.
Na verdade, a Miragina recebe bem seus visitantes. Logo à
entrada da fábrica, tem uma mesa grande com café, leite e biscoitos variados.
Ali ocorre todo começo de conversa, cercado da simpatia do patrão e empregados.
Percebe-se um “ethos” amazônico no ambiente.
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