Outro dia postei no
blog o texto “Bolero no Colégio”, falando de como aprendi a dançar esse
ritmo dentro de classe, no Colégio Acreano, em meados dos anos cinquenta. Na
história inclui o colega de classe Edilson Martins, que tinha o apelido de
Come-Açúcar. Bem humorado, e muito melhor redator que eu, ele enviou um belo
comentário, cheio de tiradas Machadianas, e não resisti em publicá-lo (segue no
final deste post). Antes, reproduzo uma explicação que dei há alguns anos sobre
a semelhança que carregamos no nome, ou seja, Elson Martins e Edilson Martins:
“Ele afirma ser mais novo que eu, mas, no fim dos anos
cinqüenta, serviu o Tiro de Guerra antes de mim. O jornalista e produtor de TV
Edílson Martins é acreano que nem eu e esteve em Rio Branco em dezembro
(2008) para receber anistia política em sessão solene. Fui encontrá-lo,
tomamos café no hotel e falamos mal do Altino Machado. “É saudável falar mal
dos melhores amigos”! – disse ele que, no dia anterior, tinha tomado café com
o Altino e falado mal de mim. Estou publicando a foto porque ainda tem gente
pensando que somos irmãos, ou a mesma pessoa. Na verdade, existem mais
coincidências: Saímos de Rio Branco para estudar em alguma faculdade em 1958
(ele pro Rio, eu pra Belém), nos tornamos jornalistas, fomos presos pelo regime
militar e recebemos o Prêmio Chico Mendes...Só falta eu também ser anistiado
e ganhar uma pensão”.
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Eu e Edison (direita) na foto batida pelo garçom do hotel |
Eis o texto-comentário que recebi do Edilson:
Caríssimo Elson:
Comovente o seu texto. Por gentileza do Carlos Celso, nem só
de maledicência ele se alimenta, tive acesso ao resgate de parte de nossas
vidas, e talvez, quem sabe, o melhor que ela nos ofereceu. Sem saudosismos. É
que naquele mundo dominado pela inocência, sem prejuízo dos desejos mais
pecaminosos, mais depravados, vivíamos um mundo muito além da transgressão.
A 2ª Grande Guerra não estava distante, e dela praticamente
não tínhamos memória, o getulismo dominava nossos corações, o povo brasileiro
ainda era um vira-latas, sem grande autoestima, sem Copa do Mundo, e nós todos
mergulhados num mundo mágico, no meio de uma selva isolada, pantagruélica, de
que sequer tínhamos consciência, sem
luta de classes aparente, sonhando e desejando as coxas da Marlise, encantados
com a arte de ensinar da Florentina, entediados com as aulas de latim do
professor Rufino, e sem jamais imaginar
que duas mulheres, de verdade, pudessem brincar de guerrear com suas aranhas.
No centro de tudo isso, o Colégio Acreano, as ruas de Rio
Branco, os lamaçais pós-chuvas, as meninas lindas para os nossos olhos
caipiras, a loucura do Tom Mix, a veadagem inaugural e evolucionária do
Chaguinha, o culto ainda vivo à pessoa do Major Guiomar, o melhor estadista de
todos os que pisaram a terra acreana.
Por arredias, fugazes como um cometa, as calcinhas de nossas
colegas de aula, num cruzar de pernas enlouquecedor, num momento de vacilo e
imprudência que alguns garantiam ser sincero, inocente, se é que existe
inocência na sedução, certamente eram mais cobiçadas que o liberou geral dos
anos posteriores.
Mas este registro acima certamente é ridículo, por careta e
premiar o passado, e passado não enche a barriga de ninguém. Mas que pareciam
ter mais mistério, até porque o mistério é a vitamina do desejo, lá isso
parecia!...
Como eram dóceis os nossos sonhos; o meu nem tanto por
vender chá de burro, mucunzá, à noite, morrendo de vergonha, e sabendo que essa
prática clandestina e criminosa me tirava do páreo de aspirar às alunas mais
assediadas, mais deslumbrantes, mas apesar de tudo vivendo um mundo delirante,
que o seu texto, preciso, preciso como você, nada piegas, resgatou. E o fez de
forma sublime, mermão. (Edilson Martins)
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