terça-feira, 24 de maio de 2011

O Repórter Edilson

Edilson Martins vai mostrar Amazônia menos folclórica em documentário

Aos 72 anos de idade, descontadas as rugas e algumas queixas que a vida impõe aos humanos que chegam a tanto, o jornalista Edilson Martins, acreano que migrou para o Rio de Janeiro há meio século absorvendo o estilo carioca de vida, mantém o ímpeto dos mais jovens  e continua produzindo boas reportagens para jornais e TVs do país. A mais recente é um documentário para televisão que será exibido em cinco capítulos em rede nacional pela TV Brasil.

Nos anos 1950, quando era aluno do Colégio Acreano em Rio Branco, ele deixou sua marca produzindo o jornalzinho estudantil “O Selecionado” na companhia do Odacir Soares (que também virou jornalista e depois senador por Rondônia) e deste que vos escreve, por acaso, jornalista também.  Os três fizeram uma entrevista histórica (em 1958) com um juiz federal maluco que mandava prender quem passasse por perto dele assoviando.

O juiz se chamava Francisco Alves ou coisa parecida, tinha vindo do Rio e chegou ao cúmulo de achacar um advogado e professor durante a realização de um júri, porque ele entrou no fórum vestido com um paletó cor laranja, que contrastava com uma calça de casimira azul. Aos gritos, expulsou-o do recinto chamando-o de caneta Parker. O fato atraiu a revista O Cruzeiro, de circulação nacional, que deu uma esculhambação no magistrado provocando sua transferência de volta à cidade maravilhosa. O que, presumo, era o que ele mais queria.

A redação do jornalzinho “O Selecionado” era improvisada no Palácio Rio Branco, após o expediente, por paternalismo do então governador Coronel Fontenele de Castro que, provavelmente, não o lia. Pois se o lesse, não concordaria com sua irreverência e não permitiria que também fosse impresso na gráfica do governo, ainda que em papel de embrulho doado pelo comércio local. O trio produzia também um programa na Rádio Difusora intitulado Voz das Selvas.

Nos anos 1960, cada um pegou rumo para cursar faculdade. Após 17 anos, eu que tinha pego a trilha Belém-Macapá- Belo Horizonte estava de volta ao Acre como repórter regional de O Estado de São Paulo,  e fui cobrir um conflito indígena no Parque 7 de Setembro,  em Rondônia,  onde os índios Surui estavam sendo ameaçados por agricultores atraídos pelos projetos de colonização do Incra.  Ao pegar um aviãozinho da Funai em Porto Velho, sob a chefia do indigenista Apoena Meirelles, dei de cara com o Edilson Martins, representando o Jornal do Brasil.

Vivemos alguns dias de muita tensão entre os Suruis e aproveitamos para reatar o contato perdido. Na ocasião, Edilson propôs que a gente afinasse o sobrenome para que os leitores pensassem que somos irmãos, o que de algum modo aconteceu e ainda acontece.  Explico: o nome completo dele é Edilson Rodrigues Martins, o meu Elson Martins da Silveira. Com os cortes no sobrenome ficou Edilson Martins e Elson Martins, ambos jornalistas e  acreanos, da mesma idade, contemporâneos no Colégio Acreano e colegas de classe, mas sem nenhum parentesco.

A mudança levou ao partilhamento de elogios e críticas, até algumas inimizades, mas sobretudo, a uma parceria jornalística. Em 1988, quando eu respondia pela direção da TV Aldeia, a televisão educativa do Acre, emprestei equipamento e equipe para que ele viabilizasse o documentário que fez em Xapuri sobre os empates liderados por Chico Mendes. O resultado foi um bom documentário divulgado em rede nacional.

Na fim da tarde em que Chico Mendes  foi morto (22 de dezembro de 1988), eu telefonei para a redação do Jornal do Brasil e, por incrível coincidência, quem estava na redação, fora de hora, era ele, que dias antes  fizera a última grande entrevista com o líder seringueiro e não conseguia convencer os editores do JB a publicá-la. Graças à minha informação o JB deu a notícia da morte no dia seguinte, sozinho, publicando depois a entrevista completa.

Edilson Martins esteve em Rio Branco desde quarta-feira passada, retornando ao Rio nesta segunda-feira, para fechar um novo documentário para televisão: AmazôniAdentro,  que vai ao ar no fim deste mês em rede nacional pela TV Brasil. Na noite de sexta, 21, ele reuniu um grupo de pessoas para mostrar alguns capítulos, que mostra uma Amazônia menos folclórica e mais real, ameaçada como nunca.

Um comentário:

  1. O Edilson é uma boníssima alma,
    Profissional equilibrado, ético,
    Amigo certo que conforta e acalma...
    Felizmente seu apelido não o tornou diabético.
    Abraços,
    José Augusto de Castro e Costa

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