Sinto saudades do texto criativo e irreverente da Leila Jalul. Em 2007, ela trocou Rio Branco por Porto Seguro, na Bahia, após arrebentar no Clube Tentamen com seu livro Suindara, e de presentear amigos com Absinto Maior, uma coletânea de poemas personalizados com gosto de despedida. Decidi, então, provocá-la com uma entrevista pela internet: enviei algumas perguntas e a reposta veio rápida: “Arriscar-me-ei a conceder-lhe a breve entrevista. Aliás, fosse a situação que fosse, arriscar-me-ia, entende? Você é o amigo sobre quem no livro Absinto Maior, em dedicatória exclusiva e personalizada descrevi a forma de amá-lo. Lembra de Ana, a russa Ákmatova? Pois é, amigo! Vamos lá”!
Entrevista
Temos uma Bienal do Livro em Rio Branco entre 29 de maio e 7 de junho. Você vem?
- Rio Branco está ficando chique demais. Até Bienal do livro? Como diria minha comadre Marlize Braga, chique perde! Olha, ir para este evento é um caso a pensar. Estou com mais de dez mil milhas para ir de graça e voltar sorrindo em qualquer avião da TAM que não enfrente turbulências. Porém, sempre existe na vida um “porém”, lembra desse bolero? Acontece, querido Elson, que ando meio jururu e você vai entender as razões nas respostas que abaixo darei, está certo?
Minha saudade é brutal. O Acre é a razão dela. Esse torrão torrado, por mais que seja sacaneado e vilipendiado é meu torrão torrado e a parte que me cabe deste latifúndio. Longe dele, sou menina passarinha com vontade de voltar. Tenho medo, muito medo, pelos motivos que bem conhece.
Seu livro Suindara (genial!) estava por ser traduzido para outra língua... Aconteceu?
- Suindaire, genial ou quase, foi cogitada para uma versão francesa. Elucubrações e devaneios - amigo! Puta e pura fantasia de quatro heróis da resistência inorgânica, de Aurélia Hübner, André Alexandre, Simony Pessoa e esta que vos fala. Tudo coisa da mente fantasiosa de quem cria que a grande obra de Leila Jalul alçasse grandes vôos e atravessasse fronteiras. Atravessou, a bem da verdade, mas não foi além de Portugal, congêneres e adjacências, entende? Não pude contratar marqueteiros e... Apenas uma amiga de Londres e outras de São Paulo arriscaram a queimação dos seus dedos e de suas almas. Quem tem cu, tem medo, entende? Não tenho culpa de gostar de Hilda Hilst. As pudicas que me perdoem. Mas nada mudou. Está tudo “très joulie de boucett enfant”, oui, monsieur? Vamos deixar como está para ver como é que fica! Suindaire é linda, inclusive no português de barranco.
Conta pra gente: Em que jornal, revista, blog ou site você publica seus textos, atualmente?
- O que faço em Porto Seguro? Porto Seguro é, digamos, um lugar que não existe. Fico e estou sempre perto dele, porém, moro num porto inseguro, onde me escondo da insensatez da justiça brasileira, “aun que jamás tenga” infringido as normas do bem da coletividade e dos bons costumes. Esse é um assunto para depois. A justiça do Acre soube, e como soube! afastar um cancro neurótico e maligno da sociedade. Infelizmente, na instância superior, fica provado que, culpado, é quem denuncia sem máscara. Coisas das leis retrógradas e dos códigos seculares. Se o Acre se viu livre de mim, em compensação, ganhou dois bandidos experientes que riem da lei, da justiça, dos magistrados, jurisconsultos e dos comerciantes locais.
Esse tópico me faz mal, entenda. Se posso dar conselhos ou sugestões, espero que os pais cuidem de suas filhas e filhos. Pedófilos, sejam americanos, índios, astronautas, governantes, hoteleiros, jornalistas, desembargadores, profetas e militantes hão de sempre ser e sempre serão. É um tipo de crime desprezível e continuado.
Xô, depressão!
Antes de deixar o Acre, você admitiu ter outro livro na agulha. Seria uma história proibida para menores, sobre a Universidade Federal do Acre. O projeto está de pé?
- O livro está pronto! Não será uma história proibida. A Universidade é nauseabunda para quem bunda não tem. Tem mais, meu camarada, o novo livro não aceitará, nem sob tortura, que você sugira o título, compreende? Aquele “rasga mortalha” ainda ecoa e rasga meus intestinos, minhas orelhas, além dos meus mortos, claro! Crash! Crash! Piuí, piuí, abacaxi! Sem chancha, negão! No novo livro tá todo mundo vivinho da Silva e Souza & Cia Ltda! Tudo e todos rescendem a suor, lágrimas e cerveja.
O projeto está de pé, eretíssimo, com ou sem Viagra financeiro. Alguns personagens você vai reconhecer, mesmo com dificuldades. Estamos velhos, brother! Os textos, crônicas, contos, causos, ou seja lá o que sejam, já estão sob os olhos de Aurélia Hübner. Quer ser o orelhista ou o apresentador? A escolha é sua!
Finalmente: Como você vê o Acre e os acreanos de onde você está?
- Amigo Elson, eu vejo o Acre talqualmente como ele é. Nasci acreana e assim morrerei. Não harará nem haverá acordo ortográfico que altere o meu pensar. A mim me ofende ver os apressadinhos, incorruptos e desfraldados de imaginação, em tão curto espaço de tempo mudarem minha identidade. Diga-se de passagem, esta não foi a única correção que desagradou. Os reformistas são muitos... são muitos, mas não sabem voar. Substituir jabá por charque, confesso, até que não me assusta ou deprime. Agora esse tal de acriano, rejeitarei até meus últimos dias. Se o lema do Juventus é crescer e a alegria do Juventus é vencer, acreana, acreana, acreana, eu sou e serei até morrer. Ponto final.
E assim, jamais serei baiana, exceto no que diz respeito ao fuso horário.
Faço a última pergunta, parecida com a penúltima: é difícil para você, se sentir baiana?
A Bahia é linda! De longe, muito longe, confesso, jamais será mais linda que meu Acre de hoje e de antes.
Não sei mais falar de meus patrícios acreanos. Há dias que leio sobre o Seu Arnóbio, o the Best, e balanço pés, pernas, pescoço e bacia. Se ele apoiar um pedófilo, seja secretário, seja gente comum, sem sombra de duvidas pisarei no seu cadáver. Não consegui entender as razões de Binho não afastar um suspeito até que as acusações contra ele fossem apuradas. Se Joana D’Arc é doida, que seja queimada de pronto. Perto do Obelisco, de preferência. Se Binho estiver correto, desculpas devo e ele que me entenda, entende? Nós, os contrários, sem bastões ou coroas, saberemos, quer de longe, quer vizinhos, avaliar o nosso sentido de caminhar junto e encaminhar os que sentam nos tronos e nos dirigem para um caminho que acreditamos seja o mais correto para o Acre.
Amigo Elson Martins, se honrarias tive nesta vida, não foi apenas com acreanos de nascença. Sou feliz e continuarei sendo por havê-lo conhecido quando, por razões óbvias, deixei que você ajudasse a formar a cabeça que tenho e a capacidade de saber dizer, inclusive nesta entrevista.
E tenho dito!
Notas: 1- Leila Jalul é advogada aposentada, da Universidade Federal do Acre (UFAC); 2- O que teria causado sua saída do Acre tem a ver com um pedófilo e presumível psicopata que se envolveu com sua família. O sujeito foi preso em 2007, mas, já foi solto e representa ameaça social.
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